Após "Efeito Tropa" e saída de integrante, Tihuana lança novo CD
Sucesso de faixa em filme de José Padilha ajudou banda a sobreviver ao declínio do rock nacional, e agora o Tihuana se prepara para voltar à cena
O encontro estava marcado para uma terça-feira em um
estúdio de gravação no bairro paulistano da Lapa, zona oeste da capital.
O motivo era registrar o ensaio de uma banda –outrora famosa – e
conversar com seus quatro integrantes. Após sete anos de hiato, o
quarteto tinha acabado de finalizar a gravação de seu sexto disco de
estúdio, Agora É Pra Valer, que tem seu lançamento ainda nesta
semana. A expectativa era encontrar uma banda veterana, lutando para
voltar ao sucesso que fora alcançado 10 anos antes. A realidade mostrou
um grupo que passou os últimos anos mais distante dos holofotes, mas o
Tihuana não é, definitivamente, uma banda que definhou nesse período.
Cadê o rock universitário?
Egypcio Vocalista do Tihuana
A agenda de shows diminuiu, mas seguiu com consistência.
A banda perdeu um de seus integrantes, o percussionista Baía, que
trocou o rock pela música eletrônica “A verdade é que o Baía traiu o
rock”, brinca o baixista Román. A “saída foi completamente amistosa. Nós
torcemos muito por ele e sabemos que ele torce muito pela gente”,
completa o vocalista Egypcio. Mas tirando um ou outro contratempo, o
Tihuana talvez tenha sido uma das poucas bandas de sua geração que
sobreviveu bem ao declínio do rock nacional nos últimos anos.
O gênero perdeu canais importantes de divulgação. A
penetração e a relevância da MTV diminuíram. Rádios voltadas ao rock
mudaram drasticamente suas programações. O Raimundos perdeu Rodolfo e,
com isso, sua força. No Charlie Brown Jr., apenas Chorão ficou o tempo
todo na formação. O emocore de CPM 22 e NX Zero evoluiu (ou regrediu?)
para o rock colorido de Restart. E o funk e o sertanejo universitário
preencheram o vácuo deixado. Enquanto isso, o Tihuana seguiu em frente.
“No Tihuana, eu percebo nitidamente que de quatro em quatro anos o
público se recicla. E sinto que tem uma ou duas gerações que a gente
perdeu, o rock perdeu. Já ouvi adolescentes dizerem que não gostam de
rock.”
Se, apesar dos percalços do mercado, o Tihuana
sobreviveu, o agradecimento vai em parte para outra expressão artística:
o cinema. A banda nasceu em 1999 em São Paulo depois que Léo
(guitarra), Román (baixo), Baía (percussão) e PG (bateria) decretaram o
fim de sua antiga banda Ostheobaldo. Com Egypcio nos vocais, o grupo se
batizou Tihuana e já de cara encarou o sucesso. No primeiro disco, Ilegal (2000) o quinteto viu quatro de suas 12 faixas pararem nas rádios: Praia Nudista, Pula!, Que Ves? e Tropa de Elite. Esta última seria a responsável por colocar o Tihuana de volta nas paradas quase 10 anos após seu lançamento.
No começo de 2007 a produtora do cineasta José Padilha
entrou em contato com a banda para pedir autorização para usar a música
em um filme sobre o Bope, estrelado por Wagner Moura. “Essas eram as
informações que a gente tinha. Mas isso caiu no esquecimento, até a
metade do ano quando meu irmão me ligou e disse que tinha visto um filme
chamado Tropa de Elite e que a nossa música entrava bombando”, relembra
Román. O sucesso da música funcionou como um desfibrilador que jogou a
banda de novo sob os holofotes e ajudou o grupo a gravar um DVD ao vivo.
Na gravação, a faixa ainda ganhou reforço do rapper e ator André Ramiro
que interpreta um policial do Bope no filme.
“O curioso é que nós não fizemos a música pensando na
polícia. Na letra, a tropa de elite somos nós, a banda, que estava
chegando para tomar a cena de assalto. Era uma coisa de banda
iniciante”, explica Egypcio. Nenhum dos quatro se arrisca a escolher um
predileto: a faixa ou o filme. Para Román, “a música fez sucesso porque o
filme é muito bom, mas acredito que se ela não fosse boa ela ia passar
batido. Ali juntou a fome com a vontade de comer.” Léo avalia o caso de
forma mais filosófica: “a minha música deu nome ao maior sucesso
cinematográfico do país”.
Mas o “Efeito Tropa” passou, e a banda agora mira novos alvos. E a munição vem de Agora É Pra Valer, o novo disco e sua primeira música de trabalho é Minha Rainha.
A faixa segue a receita que consagrou a banda: guitarradas tropicais e
uma letra escrachada cheia de eufemismos. E a participação de Digão dos
Raimundos. Uma faixa um pouco datada sim, mas que finca o pé sobre de
onde vem a banda: a geração roqueira da segunda metade da década de 90.
Ainda assim, a tarefa não é fácil. “O espaço do rock
está realmente um pouco pequeno. Tem o sertanejo universitário, o forró
universitário... Cadê o rock universitário?”, questiona Egypcio.
Enquanto essa nova geração cobrada por ele não aparece, o Tihuana se
coloca a disposição para ser a alternativa. E por enquanto, o quarteto
parece bastante à vontade com essa função.
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