SP: The Cure equilibra faceta dark com hits radiofônicos em show extenso
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Depois de passar pelo Rio de Janeiro, o The Cure se apresentou na Arenha Anhembi, em São Paulo, na noite deste sábado (6)
Foto: Marcelo Pereira /
Robert Smith deixou claro antes de chegar ao Brasil:
para não sair frustrado de cima do palco, precisa tocar pelo menos 3
horas, o que significa abusar do arsenal de sua vasta carreira de
13 álbuns. No show deste sábado (6), no Anhembi, em São Paulo, o cantor
repetiu o que havia feito no Rio de Janeiro na quinta-feira (4),
enfileirando 40 canções em um show extenso, que balanceou a faceta dark
sem sonegar os hits radiofônicos, que vieram espalhados pelo set, como
alpinos em caixas de chocolate. Robert Smith suou - literalmente - para
dar um show perfeito para fãs que ficaram 17 anos sem vê-los.
Com quase 35 anos de carreira, o The Cure está em um
clube restrito dentro da história do rock: as instituições. São
pouquíssimas bandas que conseguem, depois de décadas, manter prestígio e
popularidade capazes unir mundo diferentes lado a lado. Friday I'm In Love,
hit de comédia romântica e trilha de dezenas de casais, por exemplo,
viu lado a lado na plateia Felipe Solari, tirando foto com a vendedora
de chiclete, e Jair Naves, cantor da cena independente que carrega suas
canções do clima soturno do Cure.
Se a introspecção de seus momentos mais dark tornou o
The Cure ícone de um estilo e de uma década, foi a sensibilidade de
Smith para falar de amor que os alçou aos sucesso de massa. Do
sofrimento timido de Boys Don't Cry, que apareceu quase no final do segundo bis, à declaração escancarada de Just Like Heaven, passando por Lovesong
(com direito a vídeo cheio de corações no telão), são esses os momentos
de maior participação e ânimo da plateia. De resto, o clima foi de
apatia.
Uma semana após o Lollapalooza, o The Cure sofreu do
mesmo mal de uma das melhores apresentações do festival, o Flaming Lips:
show certo no lugar errado. Após ser transferido do Morumbi - que já
teria 30 mil ingressos a menos que o habitual - para o Anhembi, o show
provou que seria bem melhor aproveitado se o público pudesse levar
cadeiras para descansar nos momentos mais contemplativos, como a reta
final da primeira parte, com músicas como Wrong Number e Want.
A dinâmica do show também foi prejudicada pela área VIP. Apesar de
lotada - o setor teve seus ingressos esgotados -, estava abarrotada,
como de hábito, de pessoas que normalmente não estão muito preocupadas
com o show, criando um distanciamente entre banda e os fãs.
No palco, Robert Smith e banda - Simon Gallup no baixo,
Roger O'Donnell no teclado, Jason Cooper na bateria e Reeves Gabrels na
guitarra - fazem um show extremamente competente, mantendo-se tão fieis
quanto possível aos arranjos originais. A execução é exemplar, com riffs
e climas de teclados se destacando sobre uma base precisa qual relógio
da cozinha. Destaque para a voz de Robert Smith, que, mesmo aos 53 anos,
parece exatamente a mesma que nos registros do começo dos anos 1980,
mesmo que o cantor já não se arrisque em alguns momentos mais altos das
melodias.
Se a primeira hora e meia foi generosa com os hits - High, Inbetween Days, Lullaby, Mint Car apareceram -, após Friday I'm In Love, a vigésima canção, a banda emenda uma sequência mais lenta até End,
que marca a primeira saída para o bis. Neste momento, um clarão se
abriu na frente do palco, mas foi público remanescente não arredou pé
até os acordes de Killing An Arab, que encerrou a apresentação. Ganharam no meio tempo The Lovecats, Close to Me e Why Can't I Be You. Nada mal.
Smith disse
que a primeira passagem pelo Brasil foi o momento em que percebeu que a
banda era gigante. Pudera: aqueles seis shows eram raridade no Páis, à
época fora da rota das grandes turnês. O Cure também era presença
garantida em programas como o Globo de Ouro e o rock nacional bebia
diretamente da fonte do pós-punk inglês - A Forest está aí para
não deixar dúvidas. Após 26 anos, ainda ancorado naqueles sucessos, o
Cure encontrou o mesmo público, envelhecido como suas canções, mas fez
jus a sua carreira, mesmo que alternando altos e baixos no show. Noite
de nostalgia e reverência.
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