Ao Vivo

26 de outubro de 2013

INTIMIDADE

Quando é a mulher que propõe sexo


"Sempre fui bem sucedido com as mulheres. Tive uma infinidade de amantes nos 20 últimos anos. Mas agora me aconteceu uma coisa que me deixou desnorteado e estou precisando de ajuda. Tenho uma colega de trabalho que sempre assediei sem sucesso. Dava cantadas explícitas nela, que nunca aceitou as minhas propostas, embora não me rejeitasse. Apenas sorria. Na semana passada aconteceu uma coisa surpreendente que me tirou do sério. Ela estava se servindo de um café na máquina que tem no corredor da empresa e eu novamente ataquei. Perguntei o que ela ia fazer mais tarde. Sugeri que saíssemos para a balada. Ela me olhou nos olhos e disse: te quero muito hoje, preciso gozar muito contigo hoje… Aquelas palavras me broxaram imediatamente. Me senti incomodado, virei as costas e fui embora. De lá para cá, fujo dela. O que está acontecendo comigo? Devo procurá-la e tentar uma relação, apesar de me sentir broxa?"
A questão da semana é o caso do internauta que assediava uma mulher, mas quando ela propôs sexo fugiu. Isso não é raro acontecer. Mulher tomar a iniciativa da proposta sexual? "Ah!, não, isso já é demais!", é o que pensam muitos homens.
Eles ficam assustados só de se imaginar nessa situação. Têm medo de não saber como agir nem o que dizer. E o pior: pode falhar a ereção. Afinal, o papel de conquistador é o único que o homem conhece, e fora dele não dá para se sentir à vontade. Desde menino ele foi treinando para isso e, para complicar ainda mais, acreditou que faz parte da natureza masculina ser ativo e da feminina, a passividade. Mas é inegável que, apesar de tantos equívocos e limitações, ele antes vivia bem menos ansioso nessa área do que agora.
O papel que homem e mulher desempenhavam no sexo sempre teve regras claramente estabelecidas. Fazia parte do jogo de sedução e conquista o homem insistir na proposta sexual e a mulher recusar. Contudo, ele apostava no seu sucesso e para isso não media esforços. Quanto mais ela recusava mais ele insistia e mais emocionante o jogo se tornava. Só para ele, claro.
Para a mulher era um tormento. Além de toda a culpa que carregava por estar permitindo intimidade a um homem, seu desejo era desconsiderado, assim como seu prazer. Como usufruir daquele encontro? Não podia relaxar um segundo. Ela sabia que, se não se controlasse, seria logo descartada e ainda por cima rotulada de fácil.
Mas o homem continuava insistindo, e ela dizendo não. Ele nem a percebia, o importante era chegar ao final. Jogo cruel para ambos, é verdade. Aprisionados à moral anti-sexual, nenhum dos dois tinha a menor chance de experimentar o prazer proporcionado pela troca de sensações eróticas. Se em algum momento a mulher cedesse, pronto. O homem se apaziguava com a confirmação da única coisa que buscava desde o início: se sentir competente e se afirmar como macho.
Entretanto, quando a mulher resistia às investidas, a autoestima dele não era abalada. Ele se apoiava na convicção de que o motivo da recusa se devia exclusivamente a ela ser uma mulher direita, de família. Assim, imune à preocupação de ter sido rejeitado por não agradar à parceira, continuava se sentindo poderoso e absoluto.
Toda essa encenação nos permite entender por que, até hoje, muitas mulheres se esquivam do sexo. Temendo ser usadas — e durante muito tempo foram mesmo —, se queixam com frases do tipo: "Os homens só querem sexo", o que à primeira vista poderia soar estranho, já que ninguém duvida de que sexo é bom.
Agora as coisas mudaram. As mulheres dão sinais de não estarem nem um pouco dispostas a continuar se prestando a esse papel. Não querem apenas se mostrar belas e esperar passivamente que os homens se sintam atraídos e tomem a iniciativa. Isso está aos poucos se tornando coisa do passado. Mas como o homem vai resolver essa questão? Como vai se adaptar a essa nova realidade? O machão está em baixa, e a mulher busca homens que se relacionem com ela em nível de igualdade em tudo, também no sexo.
A situação do homem é bem complicada. Além de ser difícil de aceitar a igualdade com a mulher, o temor de ser avaliado e comparado a outros homens gera insegurança. Sem contar que outras preocupações, nunca antes sentidas, estão agora presentes o tempo todo: ter o pênis pequeno ou fino, a ejaculação precoce, não obter ereção no momento desejado, não proporcionar orgasmo à mulher. Muitos homens continuam procurando mulheres recatadas e passivas, acreditando estar assim mais garantidos. O problema é que em pouco tempo se sentem insatisfeitos.
Com a liberação dos costumes e todas as informações que são oferecidas, não dá mais para ignorar as muitas possibilidades de prazer sexual que um ser humano pode experimentar. Somente pessoas livres, que gostam de sexo e não têm preconceitos, estão em condições de compartilhar dessas descobertas com o parceiro. Esses conflitos só vão ser resolvidos quando o sexo for aceito como algo bom, natural, que faz parte da vida. E não se precisar mais atribuir a ele motivos que não lhe são próprios.
*Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 11 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller "A Cama na Varanda" e "O Livro do Amor". Atende em consultório particular há 39 anos, realiza palestras por todo o Brasil e é consultora e participante do programa "Amor & Sexo", da TV Globo. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

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