50 anos do golpe: O Brasil visto pelos seus vizinhos
Como Argentina, Chile e Uruguai viam a ditadura brasileira?
Tanque do Exército para próximo à casa do presidente João Goulart no Rio de Janeiro em 1964 (foto: Agência Estado)
31 MARÇO, 21:01•SÃO PAULO•LUCAS RIZZI
(ANSA) - 31 de março de 1964. Há 50 anos, o presidente democraticamente eleito João Goulart era deposto pelos militares, que em nome da luta contra uma suposta ameaça comunista usurpavam o poder e davam início a um longo período de 21 anos de ditadura no Brasil. Mas o maior país da América Latina não foi o único que sofreu com golpes contra a democracia naquele período. Argentina (1976-1983), Chile (1973-1990) e Uruguai (1973-1985) também tiveram suas vidas submetidas aos desejos das Forças Armadas, o que frequentemente provoca comparações entre os regimes desses quatro países.
Mas como o caso brasileiro, o mais longevo de todos, era visto nas outras nações do Cone Sul? Segundo Julio Gambina, doutor em ciências sociais pela Universidade de Buenos Aires e professor de economia política na Universidade Nacional de Rosário, os setores sócio-econômicos dominantes nas sociedades dos nossos vizinhos acreditavam que a ditadura do Brasil carregava um projeto modernizador e industrialista. Certamente contribuíram para essa visão as obras faraônicas realizadas pelos militares e o período do "milagre econômico" (1967-1974), que mascararam o aumento da dívida externa e da desigualdade -- sem falar da repressão.
Naquela época, o Produto Interno Bruto (PIB) nacional chegou a crescer 14% em 1973, criando nesses segmentos, já afinados ideologicamente com o regime, um ideal de progresso e a imagem de uma nação cada vez mais hegemônica na região. E entre os políticos desses países não era diferente. "Os de direita ou mais conservadores qualificavam a ditadura como benigna", conta Gambina.
De acordo com o professor, os setores mais populares e de esquerda também viam o Brasil como uma potência, mas com uma conotação distinta. Para esses grupos, o país era uma força sub-imperialista e seu regime, apesar das nuances que os distinguiam, estava no mesmo rol dos governos militares de Argentina, Chile e Uruguai. "Mas boa parte dos cidadãos desses países, com uma atitude mais 'localista', pouco se interessava pelas ditaduras vizinhas", diz.
Mas como o caso brasileiro, o mais longevo de todos, era visto nas outras nações do Cone Sul? Segundo Julio Gambina, doutor em ciências sociais pela Universidade de Buenos Aires e professor de economia política na Universidade Nacional de Rosário, os setores sócio-econômicos dominantes nas sociedades dos nossos vizinhos acreditavam que a ditadura do Brasil carregava um projeto modernizador e industrialista. Certamente contribuíram para essa visão as obras faraônicas realizadas pelos militares e o período do "milagre econômico" (1967-1974), que mascararam o aumento da dívida externa e da desigualdade -- sem falar da repressão.
Naquela época, o Produto Interno Bruto (PIB) nacional chegou a crescer 14% em 1973, criando nesses segmentos, já afinados ideologicamente com o regime, um ideal de progresso e a imagem de uma nação cada vez mais hegemônica na região. E entre os políticos desses países não era diferente. "Os de direita ou mais conservadores qualificavam a ditadura como benigna", conta Gambina.
De acordo com o professor, os setores mais populares e de esquerda também viam o Brasil como uma potência, mas com uma conotação distinta. Para esses grupos, o país era uma força sub-imperialista e seu regime, apesar das nuances que os distinguiam, estava no mesmo rol dos governos militares de Argentina, Chile e Uruguai. "Mas boa parte dos cidadãos desses países, com uma atitude mais 'localista', pouco se interessava pelas ditaduras vizinhas", diz.
Diferenças
Exaltado por setores das sociedades das nações do Cone Sul, rejeitado por outros e ignorado por muitos, o regime militar brasileiro guardava diferenças fundamentais em relação aos seus pares na América Latina. Segundo Gambina, a principal delas diz respeito à organização popular, sindical e política. "Argentina, Chile e Uruguai tinham no momento do golpe uma fortíssima organização popular empenhada na luta, incluindo formações políticas armadas. A radicalização popular do final dos anos 1960 e do início da década de 1970, somada a um projeto de libertação nacional e social pelo socialismo, afetava as classes dominantes, por isso a resposta terrorista do Estado", explica. E essa reação foi brutal. No Chile, por exemplo, o governo de Augusto Pinochet terminou com cerca de 3,2 mil mortos ou desaparecidos, além de 37 mil torturados.
Na Argentina, o saldo de sete anos de regime militar é de pelo menos 13 mil vítimas fatais -- isso levando em conta apenas os assassinatos admitidos pelo Exército. Não à toa, é considerada por muitos a ditadura mais sangrenta da América do Sul no século XX. No caso brasileiro, são 339 mortos ou desaparecidos registrados. "A ditadura do Brasil assumiu o projeto de industrialização modificando a direção do processo político, econômico e social, enquanto que no Chile, no Uruguai e na Argentina era preciso frear a ofensiva popular e alterar substancialmente o modelo de desenvolvimento", finaliza o professor. (ANSA)
Na Argentina, o saldo de sete anos de regime militar é de pelo menos 13 mil vítimas fatais -- isso levando em conta apenas os assassinatos admitidos pelo Exército. Não à toa, é considerada por muitos a ditadura mais sangrenta da América do Sul no século XX. No caso brasileiro, são 339 mortos ou desaparecidos registrados. "A ditadura do Brasil assumiu o projeto de industrialização modificando a direção do processo político, econômico e social, enquanto que no Chile, no Uruguai e na Argentina era preciso frear a ofensiva popular e alterar substancialmente o modelo de desenvolvimento", finaliza o professor. (ANSA)
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