Tony Ramos diz que preconceito do cinema com quem vem da TV é "burro"
Carlos Minuano
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
Mais conhecido pelas atuações na TV, Tony reclama de má vontade com atores e diretores de TV. "Em geral, a crítica diz que o 'tratamento ficou muito televisão'. No Brasil, não se pode dizer que o Daniel Filho fez um bom filme. Acho isso um papo furado, uma coisa burra e até meio blasé", afirma o ator, em entrevista ao UOL.
Tony, afirma que já viu muito filme chato feito por gente do cinema, não apenas no Brasil, mas em diferentes países.
Questionado sobre o que o cinema e a TV podem aprender um com o outro, Tony Ramos responde que se trata de uma pergunta eterna, mas de respostas dúbias. "São ambos narrativas de uma história".
"Televisão não tem nada a aprender com o cinema, ela já caminha com os próprios pés, TV americana, por exemplo, tem roteiros mais interessantes que os do cinema".
Tony, entretanto, nega que a televisão seja uma preferência. "Tenho contrato de exclusividade com a TV Globo, por isso muitas vezes não posso aceitar bons projetos no cinema". Para ele a equação é simples. "A televisão é de fato uma indústria, e a Globo, forte como é, me ocupa com bons trabalhos".
Reprodução
Exigente, ele garante ser criterioso em suas escolhas, e afirma que
isso vale também para as comédias. "Projetos têm que ter pé na
realidade, o expectador tem que se identificar. No caso de 'Getúlio',
foi um privilégio poder vivenciar uma história como essa, sem ser
didático, com tratamento de suspense".Em geral, a crítica diz que o 'tratamento ficou muito televisão'. No Brasil, não se pode dizer que o Daniel Filho fez um bom filme. Acho isso um papo furado, uma coisa burra e até meio blasé. , sobre o preconceito do cinema com profissionais da TV
"Getúlio" acompanha os últimos dias do ex-presidente antes de seu suicídio, em meio à crise que se instala após o atentado frustrado contra Carlos Lacerda (Alexandre Borges), seu maior opositor.
Depois do enorme sucesso de bilheteria dos dois filmes da franquia "Se Eu Fosse Você", Tony acredita no bom resultado de "Getúlio". A seu favor, o filme conta com a poderosa máquina de divulgação das organizações Globo, mas o ator defende que isso não é o mais relevante.
"O boca a boca é a grande propaganda", diz. "Por que um filme de suspense, recheado com uma história verdadeira, não pode ser um blockbuster?", questiona.
"O cinema brasileiro precisa se tornar indústria"
"O cinema brasileiro precisa se tornar indústria", critica Tony Ramos. "É assim nos Estados Unidos, Inglaterra, Índia e até na China".
E, segundo ele, o caminho para que a sétima arte se torne tão popular quanto a TV passa inevitavelmente pela questão da renúncia fiscal. "Aqui, quando se fala nisso, parece palavrão, mas também existem estímulos na América, pessoas pensam que não, mas tem no Canadá, na Inglaterra".
Para o ator, o setor precisa encontrar um denominador comum. "Faltam casas exibidoras, donos de cinema interessados, que disponibilizem bom número de salas para filmes, e o cinema como um todo produzindo bastante, comédias, dramas, tragédias, documentários".
Tony também critica a subserviência embutida em patrocínio por meio de leis de incentivo. "Falta consciência aos empresários que financiam a cultura. Tem cineastas maravilhosos mendigando verba para fazerem seus filmes, isso é sacanagem".
Para o ator, discussão precisa ir além do "me dá um dinheiro aí". "Não pode privilegiar ninguém e nem vir com aquele papo de que se for famoso não precisa".
TV ou cinema?
Tal qual Tony Ramos, o ator Alexandre Borges é um rosto mais conhecido pelos papeis em novelas da TV Globo. Mas o ator que também está no elenco de "Getúlio", no papel do jornalista de oposição Carlos Lacerda, afirma não ser tão criterioso e diz que poderia ser diferente. "Se tivesse mais convites, faria mais cinema", declara.
TV ou cinema? Na opinião do ator global, tanto faz, para ele, cinema e TV atualmente estão muito misturados. "Roteiristas do cinema estão na televisão e vice-versa".
Com facilidades da tecnologia e do digital, a questão, segundo Borges, está mais no objetivo do conteúdo. "É tudo a mesma coisa, mas é preciso definir com cuidado o gênero e o público".
Drica Moraes, que vive a filha de Getúlio Vargas no filme de João Jardim , lembra que, em outros tempos, o cinema já foi mais popular que a televisão. "Foi o inventor da TV", diz. "Comédias da Atlântida (produtora carioca que fez sucesso nas décadas de 50 e 60) movimentavam milhões de pessoas, filmes mudos levaram o mundo à loucura".
No entanto, ela vê distinções claras entre cinema e TV, e defende que seja assim. "Não precisam se igualar, são linguagens diferenciadas". Para ela, a televisão nunca substituirá a sétima arte, que será sempre uma experiência única. "Você sai da sessão geralmente impactado, sem entender o que está se passando".
Drica defende uma televisão mais cinematográfica. Diferentemente de Tony Ramos, ela acredita que a telona tem sim lições a ensinar à TV, em especial no preenchimento do tempo e do espaço.
"TV por natureza tem que ser editada de maneira rápida, programas têm que ser curtos, conteúdos leves". Enquanto o cinema – prossegue Drica – é o lugar do tempo, do silêncio, da profundidade, dos temas. "Essa interseção pode ser valiosa, pode ser interessante se a televisão puder respirar um pouco mais, se tiver tempos mais humanos, digerir melhor os temas", conclui.
Mercado
Mas será que o mercado do cinema brasileiro está pronto para dramas e outros gêneros que não comédias alcançarem sucesso comercial? Para o diretor de "Getúlio", João Jardim, a questão não importa.
"É um filme necessário", sublinha. Foi o que o motivou a se lançar em sua primeira ficção. "Tinha que ser feito".
E o fato de ser uma produção da Globo Filmes só ajudou, diz ele. "Não tive nenhuma dificuldade de comunicação com eles pelo tipo de conteúdo de filme. Aliás, foi muito valorizado. Na verdade, falta quem encare projetos desse tipo, porque leva tempo, é difícil", conclui.
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