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1 de junho de 2014

Andrei Rodrigues: “Aprendemos com a Copa das Confederações”

O comandante da segurança na Copa do Mundo afirma que as manifestações no ano passado serviram para testar as forças policiais ao máximo e que a proteção está garantida

MURILO RAMOS E FLÁVIA TAVARES
Andrei Rodrigues, comandante da Secretaria de Segurança para Grandes Eventos (Foto: Beto Barata)
Fotos do desembarque da seleção da Austrália, em Curitiba (PR), chegavam ininterruptamente ao telefone celular do delegado da Polícia Federal Andrei Rodrigues na noite de quarta-feira (28). Comandante da Secretaria de Segurança para Grandes Eventos, ele acompanhava de Brasília a chegada do primeiro time para a disputa da Copa do Mundo. Ele terá sob seu comando 100 mil policiais e uma parceria com as Forças Armadas. Rodrigues – que chefiou a segurança da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010 – diz que está tudo preparado, apesar da insatisfação com o tumulto em torno do ônibus da Seleção Brasileira no Rio de Janeiro. “Isso não deve se repetir”, diz nesta entrevista a ÉPOCA.
ÉPOCA – A presidente Dilma Rousseff disse que não admitirá baderna na Copa do Mundo. É possível garantir isso?
Andrei Rodrigues –
Trabalhamos para garantir que não ocorram ações violentas, depredações, cometimentos de crimes ou ações que possam interferir na organização do evento. Garantimos a todos que haverá segurança.
ÉPOCA – O governo tirou alguma lição das manifestações ocorridas durante a Copa das Confederações no ano passado?
Rodrigues –
Sem dúvida. Foi um teste extremo. Houve dias em que tivemos mais de um milhão de pessoas nas ruas e um efetivo de 50 mil policiais. No entanto, a competição não foi ameaçada. Não houve atraso de jogo, delegação sob risco, torcedor que tenha deixado de sair ou entrar do estádio na hora que quis ou hotéis que tenham sofrido problemas. Mas isso é suficiente? Não. A gente procura aprender.
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ÉPOCA – Mas a Copa do Mundo é maior que a Copa das Confederações. São 12 sedes e 32 seleções contra seis sedes e oito seleções na Copa das Confederações.
Rodrigues –
São 12 sedes de jogos e três sedes de treinamentos. Na verdade, são 15 sedes. A gente estendeu para essas novas sedes o conceito da operação. Vamos trabalhar integrados com órgãos do governo federal, estados e municípios. Esse trabalho será possível com a conexão dos centros de operação regionais com o centro de operação nacional, em Brasília. Ao mesmo tempo em que é um complicador fazer a segurança em tantos locais, porque nos faz ter essa capilaridade, diluímos os riscos em 15 pequenas partes. Em vez de ter 32 delegações concentradas num curto espaço, elas estão dispersas. O Brasil tem hoje o maior contingente de homens já envolvido na realização de um mundial. São 100 mil homens ligados aos Estados ou ao Ministério da Justiça e 60 mil homens das Forças Armadas.
ÉPOCA – A divisão de tarefas entre tantos órgãos é um risco? E se houver greves das polícias durante a Copa?
Rodrigues –
Acho que não haverá greves. O Supremo Tribunal Federal já decidiu que greves das forças policiais são ilegais. Também acredito no compromisso desses servidores públicos num momento tão importante do Brasil. Ainda assim, se qualquer problema ocorrer, temos um plano de contingência. Poderemos contar com a Força Nacional de Segurança Pública e com as Forças Armadas.
ÉPOCA – Qual é o procedimento a ser adotado no caso de um protesto violento próximo a um estádio?
Rodrigues –
Em relação às arenas temos níveis de aceitação de movimentos. Temos três perímetros. Para cada um existe um tipo de reação. Para o ultimo perímetro, a ordem é não deixar ninguém passar.
ÉPOCA – Isso mudou desde a Copa das Confederações? No jogo de abertura, em Brasília, manifestantes se aproximaram do estádio e inocentes foram atingidos.
Rodrigues –
Foi um aprendizado. Aquele protesto não deveria ter avançado do jeito que avançou. No jogo amistoso do Brasil com a Austrália, no dia 7 de setembro, em Brasília, foram montadas linhas de contenção e o que se viu foi um resultado positivo.
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ÉPOCA – Na semana passada, manifestantes se aproximaram do ônibus da Seleção no Rio de Janeiro. Houve falha?
Rodrigues –
Fizemos todo o procedimento dentro do conceito de integração com o centro regional do Rio de Janeiro. Lá estava a polícia militar, fazendo a contenção externa, os batedores das Forças Armadas e a segurança aproximada da Polícia Federal. Também foram feitas varredura do ambiente antes da chegada dos jogadores do Brasil e revista em todos os manifestantes. Enfim, a avaliação da Polícia Militar era de que não havia risco para a saída da delegação e para os jogadores.
ÉPOCA – Mas esse tipo de situação será tolerado na Copa?
Rodrigues –
As pessoas não devem ter acesso aos veículos que transportam as seleções. Vamos intensificar a precaução em relação ao isolamento para que não haja risco para os atletas ou imagens de pessoas batendo no ônibus, o que é indesejável. Mas acredito que o mais danoso, naquela situação, seria um confronto com os manifestantes. De toda forma, foi um episódio que nos trouxe um aprendizado.

“Se alguém der uma pedrada ou uma flechada, a reação da polícia será proporcional”
ÉPOCA – Um dia depois, índios deram flechadas em policiais em Brasília. Não estamos próximos demais da Copa para que episódios assim aconteçam?
Rodrigues –
Se alguém der pedrada ou flechada, a reação da polícia será proporcional. Durante a Copa, o policiamento é ampliado e ali, próximo à arena, a questão do perímetro vai ser aplicada. O que havia em Brasília era um evento privado de exibição da taça. A segurança privada decidiu interromper o evento. Se fosse um evento nosso, da segurança pública, não teria sido suspenso.
ÉPOCA – Os equipamentos adquiridos para a Copa, como o drone da PF, serão usados?
Rodrigues –
Já estão. O imageador aéreo, que é uma câmera instalada embaixo dos helicópteros em cada cidade, foi usado em Brasília na semana passada. Os centros integrados e móveis de controle também estão funcionando, assim como as câmeras de rua. Todos esses equipamentos vão ficar para os estados. O Veículo Aéreo não Tripulado (Vant), da Polícia Federal, também vai ser utilizado. Mas não posso dar detalhes por questões estratégicas.
ÉPOCA – Haverá proteção especial para as seleções dos Estados Unidos, Rússia e Irã?
Rodrigues –
Haverá esquema especial para as 32 seleções. Existe uma classificação de risco, como é feita com a segurança de chefes de estado. Essa avaliação depende de cada evento. Qual é o jogo? Houve incidente diplomático entre aqueles países? Há razão para aumentar a segurança? Tudo isso vai ser avaliado caso a caso.
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ÉPOCA – Como monitorar torcedores problemáticos, como os hooligans ingleses e os barrabravas da Argentina?
Rodrigues –
Teremos um centro de cooperação policial internacional. Cada país enviará sete policiais para o Brasil. Três ficarão em Brasília e quatro irão para os locais de jogo de seus países. Esses policiais usarão os uniformes de seus países. Isso trará mais conforto para os estrangeiros e inibirá ações indesejadas. No caso dos argentinos, já recebemos deles uma lista dos barrabravas. A Inglaterra impede torcedores com histórico de confusões de deixar o país e isso facilita o trabalho. Os ingleses já se dispuseram a nos passar informações sobre torcedores, assim como a Alemanha, Bélgica e Estados Unidos.
ÉPOCA – Haverá atenção especial aos centros de imprensa, às festas da FIFA para as torcidas e à presença de autoridades?
Rodrigues –
Daremos atenção a todos os locais onde houver eventos relacionados à Copa e a algumas áreas de interesse, como pontos turísticos. No caso de autoridades, seguiremos as regras internacionais.
ÉPOCA – O que mais preocupa o senhor nessa reta final?
Rodrigues –
Colocar em prática todo esse trabalho que a gente definiu, fez investimentos pesados, uma média de R$ 80 milhões por estado. Temos os focos de atenção com a segurança das delegações, com a gestão de violência em manifestações, a imigração em aeroportos e fronteiras e eventos importantes como a abertura e a final da Copa. Tem também o jogo da Argentina com a Nigéria, em que há a possibilidade de mais de 50 mil argentinos em Porto Alegre. Os argentinos são muito benvindos, mas a preparação é ampliada.
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ÉPOCA – O que é mais fácil: chefiar a segurança da campanha da presidente Dilma em 2010 ou a Copa do Mundo?
Rodrigues –
São missões distintas e difíceis, com responsabilidade altíssima de se chegar ao final e poder dizer que deu certo. A missão da campanha foi intensa. Eu acompanhei a presidente Dilma até a sala do senador José Sarney, onde foi diplomada, e dali quem assumiu foi o Gabinete de Segurança Institucional. Depois fui comemorar. Dei a ela uma camisa do Brasil de Pelotas, meu time de coração.

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