Perto de seu fim, “Em Família” ganha agilidade com a loucura de Laerte
Nilson Xavier
Laerte parece, enfim, ter acordado de um sono profundo. Ou da total catatonia. Aos quarenta e cinco do segundo tempo (só para usar uma expressão que remete ao futebol, muito em voga no momento).
Faltando menos de um mês para o término da novela “Em Família”, Manoel Carlos, o autor, tirou da manga sua derradeira carta. Laerte – personagem de Gabriel Braga Nunes – que era um ser absolutamente passional, em estágio avançado da doença – a ponto de enterrar vivo o seu rival –, passou toda a terceira fase da trama (a maior parte da ação) com um olhar vazio no infinito que refletiu na novela em si, pautada pela lerdeza dos acontecimentos, marasmo das histórias e falta de ação. O cotidiano típico de Maneco, reconhecido em trabalhos anteriores, não encontrou na direção a agilidade necessária para a fluidez exigida pelo público de hoje.
Laerte reflete, em suma, muito do que foi “Em Família”. Foi o personagem mais comentado, o que, pelo seu comportamento, gerou sentimentos apaixonados de repúdio. Laerte foi, afinal, quem desencadeou a história de Manoel Carlos. Mais que Helena, a dita protagonista (Júlia Lemmertz). Mas, se o personagem era a força motriz de “Em Família”, por que esteve tanto tempo encubado, num “stand by” irritante? Enquanto isso, as mulheres de sua vida se estapearam entre elas – Helena (Júlia Lemmertz), Luiza (Bruna Marquezine), Verônica (Helena Ranaldi), Shirley (Vivianne Pasmanter), Selma (Ana Beatriz Nogueira) – na cata por migalhas de amor de Laerte e atenção do público.
“Em Família” foi assim também. Um início de expectativas, com personagens que prometiam muito – como Laerte, Helena, Shirley. Mas o protagonista que surgiu na terceira e definitiva fase – encarnado por um Gabriel Braga Nunes de voz linear e olhar frio e distante – levou uma novela inteira para acontecer. Só agora, nas últimas semanas, reconhecemos nele o apaixonado com sangue nos olhos da segunda fase (vivido pelo jovem Guilherme Leicam). Um tanto quanto tarde para fazer “Em Família” acontecer, não? Mas, por consolo, antes tarde do que nunca.
Talvez, se Laerte tivesse agido bem antes, quem sabe a história não teria sido outra. Tanto na tela da TV quanto na reação do público, e, por consequência, na repercussão da novela de Manoel Carlos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário