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2 de junho de 2014

Ser homem e mulher "de verdade" é um 


duro desafio para os jovens

EFE
Sabrina Aïd
  • Thinkstock
    Pesquisa reforça a ideia que meninos e meninas não são tão diferentes
    Pesquisa reforça a ideia que meninos e meninas não são tão diferentes
Os meninos escondem o gosto por algumas áreas artísticas e as meninas fingem ser menos inteligentes para poderem ser considerados homens e mulheres "de verdade" e evitarem assim as piadinhas dos colegas de classe, revelou um estudo sociológico pioneiro em Portugal e premiado nos Estados Unidos.

"A infância e a juventude são fases da vida muito importantes do ponto de vista do desenvolvimento da identidade de gênero e das ideias sobre o que um homem e uma mulher de verdade devem fazer", explicou à Agência Efe a autora da pesquisa, Maria do Mar Pereira, socióloga e professora na Universidade de Warwick, na Inglaterra.

Para chegar a esta conclusão, a pesquisadora retornou às salas de aula e passou a fazer parte da vida diária de um grupo de alunos entre 13 e 14 anos, o que a permitiu ouvir muitos dos segredos que os jovens dessa idade guardam dos pais e professores e são chave no desenvolvimento da personalidade.

"Era urgente em Portugal fazer este tipo de pesquisa na vida dos jovens para compreender esses processos", justificou Maria do Mar, que teve que dedicar parte do tempo da pesquisa a ganhar a confiança dos jovens e se integrar à rotina deles.

Embora o estudo tenha sido realizado em Portugal, a autora garantiu que as conclusões são universais e que por isso foi reconhecido em nível internacional.

Entre as revelações que mais surpreenderam está "o nível do efeito negativo" na qualidade de vida dos estudantes e a grande "perda de potencial intelectual" resultantes da pressão que sofrem para ajustar o comportamento ao considerado mais adequado para seu gênero.

O talento é perdido quando, por exemplo, as meninas fingem serem mais ingênuas porque acham que os homens não gostam de mulheres inteligentes demais e quando os meninos escondem seu gosto por atividades artísticas por receio de serem alvo de brincadeiras entre os amigos.

"Todos os meninos e meninas falam das sensações de exclusão, desintegração, falta de autoestima, medo e desânimo que sentem diariamente na escola" em consequência dos esforços que fazem para se adaptar as normas de gênero, explicou a socióloga.

As consequências negativas se estendem à vida adulta porque este tipo de situação acontece em uma idade estratégica na formação da identidade.

"Os homens adultos muitas vezes têm dificuldade para expressar suas emoções porque desde pequenos foram pressionados para não fazê-lo" e para esconder qualquer tipo de fraqueza, relatou Maria do Mar, ao acrescentar que isso torna mais difícil diagnosticar no futuro depressões ou outros problemas no sexo masculino.

No caso das mulheres, a insegurança, a baixa autoestima e os desequilíbrios alimentares é o que mais as afeta porque "têm mais dificuldade em reconhecer seu valor e manifestá-lo publicamente".

Isso as leva, por exemplo, a aceitar salários mais baixos que os homens no mesmo cargo e não solicitar promoções.

Em termos gerais, o estudo da socióloga portuguesa, publicado no livro "Fazendo Gênero no Recreio" (ainda não editado no Brasil), reforça a ideia que meninos e meninas não são tão diferentes.

"Têm gostos, ansiedades e necessidades muito semelhantes, mas passam quase todo o tempo tentando modificar seu comportamento para esconder algumas dessas semelhanças", alertou a socióloga.

Até o ponto em que comportamentos idênticos são descritos de forma diferente por meninos e meninas para marcar uma separação. É o que ocorre ao falar da vida dos outros. Se eles falam é "curiosidade saudável", mas se são elas trata-se de "fofoca".

Os professores têm sua parcela de responsabilidade porque, de acordo com Pereira, "dizem coisas inaceitáveis sem perceber que estão reforçando" esse tipo de comportamento.

"É preciso integrar estas questões nos programas de estudo e levá-las a sério, como um elemento central na formação de crianças e jovens", disse a pesquisadora.

"Pessoas que não se falavam começaram a fazê-lo e alguns comportamentos que antes eram muito criticados passaram a ser aceitos", acrescentou a socióloga.

A pesquisa recebeu o Prêmio Internacional de melhor livro de Pesquisa Qualitativa (2010-2014) no congresso sobre o tema que acontece na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.

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