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2 de junho de 2014

Valéria Monteiro: " É difícil romper com o preconceito do bonito"

Jornalista volta à TV 21 anos após pedir demissão da Globo para morar nos Estados Unidos. À frente de 'O Show da Vida é Fantástico', no Canal Viva, ela conta que o nascimento da filha, Vitoria, foi a melhor experiência de sua vida, confessa que já usou botox e diz que sofreu bullying no início da carreira

valéria (Foto: marcelo correa)
Em 1992, Valéria Monteiro fez história na televisão brasileira ao apresentar o Jornal Nacional, até então um reduto masculino. O feito durou pouco: no ano seguinte, ela pediu demissão da TV Globo para ir morar nos Estados Unidos e só voltou ao Brasil após os atentados de 11 de setembro, em 2001, por causa da crise econômica. “Andei três casinhas para trás”, diz Valéria, 49 anos, que retorna ao veículo que a consagrou à frente de O Show da Vida é Fantástico. No programa do canal pago Viva, exibido de segunda à sexta-feira, às 23h, ela conversa com convidados, como o cantor Paulo Ricardo, sobre seus clipes de maior sucesso exibidos noFantástico.
Veja mais (Foto: Revista QUEM)
Musa do telejornalismo no final dos anos 1980 e começo dos 1990, quando apresentou, além do JN e de edições locais, o Fantástico e o Jornal Hoje, a mineira Valéria foi modelo em Campinas, no interior de São Paulo, onde cresceu. Mãe da estudante de cinema Vitoria, 24, sua única filha, com Paulo Ubiratan, diretor da Globo morto em 1998, ela também foi casada com um americano e, hoje, está solteira. “Se não for o homem certo e não vier agregando valor na relação, é melhor não ter”, afirma, com o mesmo bom humor com que revela um de seus segredos de beleza: “Uso cinta.”
QUEM:  Como está sendo a volta à televisão?
VALÉRIA MONTEIRO: 
Foi muito gostoso rever os clipes, cada um te remete a um momento da vida. Quem assistir vai passar por essa experiência da memória afetiva. Adoraria fazer uma segunda temporada.
valéria (Foto: marcelo correa)
QUEM:  Sua imagem ficou associada à TV Globo. O que fez desde que deixou a emissora?
VM: 
Fui para os Estados Unidos, em 1993, e vivi lá nove anos. Fiz frilas para as redes NBC e Bloomberg e para uma produtora independente. Veio o 11 de setembro e decidi voltar.
QUEM:  Por quê?
VM: Não consegui segurar a barra. Desestabilizou a infraestrutura financeira que tinha conseguido. Andei três casinhas para trás. Minha filha pediu para voltar também, e achei que era hora de ficar perto da família.
QUEM:  Como foi a volta?
VM: 
Tinha um projeto de um portal de internet, mas o Brasil estava muito atrasado nessa área. Fiz pilotos para a TV e dei de cara com a dificuldade de distribuição. Também fiz comerciais, mediações de discussões, palestras e eventos. Fiz teatro, fui produtora de banda, estou escrevendo dois roteiros, tudo meio junto, enquanto faço outras coisas para pagar as contas.
QUEM:  Você fez a campanha de José Serra à Presidência, em 2002. Teve medo que isso afetasse sua credibilidade?
VM: 
Não. Na época, PSDB e PT tinham diferenças históricas, mas não eram tão grandes, não eram abismais.
QUEM:  Participar da campanha fechou portas depois?
VM: 
Definitivamente. Aquela ideia de que o PT iria abraçar todas as sugestões, independentemente de onde elas viessem, não foi bem assim na minha experiência. Busquei apoio ou parceria no governo e não tive.
QUEM:  Como você começou no jornalismo?
VM: 
Em uma TV em Campinas, que era afiliada da Record. Depois, entrei na TV Campinas, hoje EPTV. Um dia, vim ao Rio, queria cavar um teste e fui apresentada ao Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, que foi vice-presidente de operações da TV Globo).
Coloquei botox na testa, mas não gostei. A testa fica muito lisa e o resto caído. Você sorri, a bochecha levanta e as sobrancelhas ficam meio demoníacas"
QUEM:  O que aconteceu?
VM: 
Deixei uma fita. Meses depois, estava saindo de viagem e minha irmã veio buzinando atrás: ‘É o Boni no telefone, ele vai ligar de novo em 20 minutos’. Voltei, ele ligou e perguntou: ‘O que você quer?’. Respondi que queria uma oportunidade. Fiz um teste, fui aprovada e passei por vários jornais da casa.
QUEM:  Como foi a escalada para o Jornal Nacional?
VM: 
Tinha tido minha filha, queria ser correspondente fora. Era complicado, poucas pessoas tinham essa chance. Estava na hora de dar um tempo. Aí, veio a proposta de fazer o JN, mas atrelada à possibilidade de ir para Nova York. Por complicações pessoais, não aconteceu. Um ano depois, decidi ir embora.
QUEM:  Tem noção da importância de ter sido a primeira mulher a apresentar o JN?
VM:
 Sim, inclusive, muitas vezes, foi subestimada minha participação no JN. Eu apresentava o jornal aos sábados porque se imaginou que as pessoas poderiam não aceitar tão bem uma presença feminina definitiva na bancada. É um machismo muito grande. Abri portas.
QUEM:  Sofreu muitas críticas?
VM: 
No meu começo, no RJTV, sim.  Algumas pessoas deixavam recortes com as críticas na minha mesa.      
QUEM:  Você sofria bullying?
VM: 
Muito, muito (enfática). As críticas magoavam muito, eu era muito garota e é difícil segurar a onda. Passei meus dois primeiros anos no Rio querendo voltar para São Paulo. Acho que é natural você pensar, gaguejar em uma palavra e outra, e isso criou uma identificação muito grande com o público.
QUEM:  Como foi a decisão de deixar a Globo?
VM: 
Eu precisava me reencontrar como pessoa, queria outros voos. A separação do pai da minha filha destruiu alguns sonhos. Foram dois anos de disputa judicial bem puxados, mas eu não abriria mão da minha filha. A mudança para Nova York teve a ver com a interferência dele em eu não ter ido como correspondente.
QUEM:  A briga pela guarda era porque você planejava morar fora?
VM: 
Piorou muito quando falei que queria passar um tempo fora. Paulo ficou muito indignado e tentou controlar a situação de uma maneira que foi muito injusta.
verônia (Foto: marcelo correa)
QUEM:  Você e Vitoria são próximas?
VM: 
Passei pela síndrome do ninho vazio de forma muito forte. Sou muito apegada a ela e não tem nada que tenha sido mais marcante, mais bonito, mais interessante do que ter tido a minha filha.
QUEM:  Está solteira?
VM: 
Sim. Há seis meses, terminei um namoro. Gostaria de ter um companheiro, mas não procuro. Se ele chegar, ok.  Homem, se não for o homem certo e não vier agregando valor na relação, é melhor não ter.
Vera Fischer disse uma coisa que eu sempre uso: ‘A beleza abre portas, mas, às vezes, é a porta dos fundos’"
QUEM:  Você tomou decisões que representaram grandes mudanças de vida. Teve medo?
VM: 
O medo é presente. Mas a vida da gente não é só o bom emprego, ela vai te levando por anseios e caminhos que também te movem. Eu sou meio idealista, tem coisas que quero conquistar, ainda, e, para mim, é a morte ficar na mesmice fazendo a mesma coisa. Isso é tão difícil como não ter como pagar o próximo aluguel. Aprendi o que mil faculdades não me dariam se eu não tivesse vivido esses nove anos fora. Eu teria estagnado aqui como profissional. Você vira móveis e utensílios.
QUEM:  Qual é o segredo para continuar bonita aos 49 anos?
VM: 
Uso cinta (risos). É verdade, ajuda na postura. Eu tento não detonar muito, procuro caminhar, cuido da alimentação.
QUEM:  Já usou botox?
VM: 
Coloquei botox na testa, mas não gostei. A testa fica muito lisa e o resto caído. Você sorri, a bochecha levanta e as sobrancelhas ficam meio demoníacas. Fiz duas lipos, uma para corrigir os buracos da primeira. Também coloquei próteses de mamas. Hoje, vejo defeitinhos, mas tenho medo de mexer. A vida não é só o corpo físico.
QUEM:  É um clichê, mas a beleza abriu portas?
VM: 
Vera Fischer disse uma coisa que eu sempre uso: ‘A beleza abre portas, mas, às vezes, é a porta dos fundos’. É difícil romper com o preconceito do bonito, que o bonito não pode ser competente o suficiente, que não merece ser reconhecido como outra coisa que não seja bonito.
valéria (Foto: marcelo correa)

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