Protógenes Queiroz: Um homem contra o “sistema”
Ele perdeu o cargo de delegado e, em breve, deverá perder o mandato de deputado – a não ser que um “levante popular” o salve de um “complô”
FLÁVIA TAVARES
Não comente, mas Protógenes Queiroz, deputado pelo PCdoB, é vítima de
uma conspiração para derrubá-lo do poder. Há duas semanas, os eleitores
paulistas não lhe deram votos suficientes para permanecer no Congresso –
ele fora eleito em 2010, não é piada, graças à votação espetacular do
companheiro Tiririca, cujo coeficiente eleitoral levou um circo inteiro à Câmara. O Supremo Tribunal Federal (STF)
lhe cassou na semana passada os últimos meses de mandato e até o cargo
de delegado da Polícia Federal, em virtude de sua atuação na Operação
Satiagraha. Nela, Protógenes tentou desesperadamente – e ilegalmente,
segundo o STF – investigar e prender o banqueiro Daniel Dantas.
Protógenes não tem mais espaço em Brasília. Começou a preparar a mudança
no fim de semana. Seu destino é incerto; sua ira é certeira. “Vamos ao
levante popular (sic)! Fraudes na eleição nunca mais, a democracia foi
traída!”, disse no Twitter. De 26 mil seguidores, 34 o apoiaram.
Enquanto o levante popular não chega, Protógenes empacota suas coisas
em caixas de papelão. Sentado num sofá bege em seu apartamento funcional
em Brasília, discorre sobre o que considera ser uma “operação casada”
para prejudicá-lo. “Começo minha história na PF como delegado,
combatendo a macrocriminalidade, a máfia. Quando comecei a atacar a
macrocriminalidade política no Congresso, ficou mais difícil. Você
individualiza um operador, mas não todos os integrantes do sistema. Só
sabe que existe o sistema operando: ‘Vamos tirar o mandato dele e
colocar o julgamento no Supremo. Julgamento que pode dar pena de prisão e
perda do cargo de delegado. Não vamos nem deixar ele voltar à PF’”,
diz, didaticamente.Protógenes tem duas linhas de argumentação. A primeira, sobre o julgamento. Segundo Protógenes, o juiz que o julgou na primeira instância deveria ter se declarado impedido – um irmão dele fora investigado por Protógenes anos antes. “Na sentença, com um claro sentimento de vingança, o juiz ainda ironizou minha condição de réu. Converteu a pena em serviço comunitário num hospital de queimados. Todos sabem que, em 2009, sofri um atentado, meu carro foi incendiado, e meus dois pés queimados”, diz. Protógenes considera que o ministro Gilmar Mendes, do STF, também deveria se declarar suspeito. “Ele já manifestou antipatia pela Satiagraha. Não é qualificado para julgar nenhum caso envolvendo Daniel Dantas.” No auge da Satiagraha, em 2008, Gilmar entendeu que o juiz do caso errara em mandar prender Dantas. Determinou que fosse solto. Isso enfureceu Protógenes.
A segunda parte do complô do “sistema”, diz Protógenes, é eleitoral. Ele não se conforma com os 27 mil votos que teve. Afirma que recebeu muito mais. A explicação, diz, só pode ser uma: fraude eleitoral. Protógenes levantou os votos que teve em cada zona. Exibe papéis preparados para impressionar o interlocutor. Centenas de municípios com votação zero, seguidos de cidades em que teve um voto, dois, três, quatro, até chegar à soma final. “Eles foram burros. Daria trabalho, mas poderiam ter embaralhado os votos. Não fizeram questão, igualaram várias cidades”, diz. “Eles” quem? O sistema, oras.
Protógenes fez uma representação ao Ministério Público Eleitoral. Quer anular as eleições para deputado. Não só em São Paulo; no Brasil. Diz que há casos de fraude no Rio de Janeiro e no Paraná. Faz denúncias gravíssimas. Ganha um espião da Abin quem adivinhar o principal responsável pelo complô. Ao longo de uma hora e 15 minutos de entrevista, Protógenes menciona Dantas sete vezes. É sua obsessão. Mas quatro anos no Congresso bastaram para que cedesse ao arqui-inimigo o status de mero “operador” de algo maior. “Ele é um integrante, não é o chefe. Tentaram impedir minha eleição já em 2010. Tanto que minha votação foi baixa, mesmo com a exposição de mídia que tive. Fui cogitado até como candidato a presidente.”
Protógenes afirma que foram oferecidos “milhões de dólares” a dirigentes do PCdoB, para que não lhe dessem legenda para concorrer em 2010. Diz ainda ter sido ameaçado de morte no plenário, por ter assinado a criação de CPIs. “Disseram que a CPI podia acabar no meu funeral”, diz, sem contar quem o ameaçou. Por que não prendeu ninguém? “Gostaria muito, até tentei montar uma operação de inteligência. Mas sou delegado licenciado. Na Câmara, atuei propondo investigações.” Até agora, as “forças políticas” impediram sua mais recente investigação. Ele quer provar que o avião de Eduardo Campos não caiu por acidente. Campos foi assassinado, afirma.
Protógenes esteve no STF para acompanhar seu julgamento. Vestindo terno azul-marinho, permaneceu inerte, mão no queixo, quando os ministros confirmaram parte da sentença imposta na primeira instância – incluindo o serviço comunitário, mas excluindo a condenação por fraude processual. Protógenes não será mais deputado. Nem delegado, embora ainda possa recorrer. Na saída, diz que recorrerá ao plenário do STF. Afirma que aquele é um tribunal de exceção. Até que a Câmara decida se cassa o resto de seu mandato, pretende usar a tribuna para mostrar a injustiça a que diz ter sido submetido. Protógenes gostaria muito de ficar em Brasília. Se a condenação no STF prevalecer, pensa em morar num lugar onde as liberdades individuais são respeitadas. Onde o estado de direito não está à mercê de “criminosos políticos”. Ele quer morar na Rússia.
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