Ao Vivo

1 de novembro de 2014


Crítica

Corpornô mostra o erótico escancarado e sem pudor
Espetáculo do grupo cearense Cia. Dita é uma mistura de José Celso Martinez e Gerald Thomaz
Corpornô é ousado e curioso / Divulgação

Corpornô é ousado e curioso

Divulgação

José Celso Martinez e Gerald Thomaz já chocaram e muito as plateias brasileiras ao imprimirem nas suas montagens uma estética deveras ousada e desnuda. E embora diga que faz vista grossa diante do que é produzido neste estilo no Brasil, o diretor e bailarino cearense Fauller bebe sim, com propriedade, da fonte daqueles dois diretores anárquicos. Em Corpornô, encenado anteontem e ontem, no Teatro Hermilo Borba Filho, o rapaz não poupou a plateia nem se poupou ao escancarar, literalmente, o que o pudor recrimina.

O trabalho é um teatro que flerta com a dança de maneira híbrida. Não há texto, mas os olhares e expressões são certeiros e falam com a plateia. Diante dos sexos cotidianos e aquelas infinitas situações corriqueiras que, olhadas com o sentido apimentado, despertam demônios, o público sorri desconcertado, se desconcerta e, enfim, se percebe – ou prefere sair do teatro.
O corpo dos bailarinos-atores se contorce e é a musculatura, que simula orgasmos, quem dança. Desde a moça andando de bicicleta na “companhia” de um brinquedo erótico aos lutadores de luta-livre que se digladiam em movimentos também sexuais – e vai daí por diante (coisas que não cabem ser citadas aqui).
Recorrendo pouquíssimo à trilha sonora, mas se erguendo basicamente na luz, Corpornô é um experimento curioso. É espetáculo vertiginoso, que relê, mesmo sem se propor a isso, as nudezes propostas por Zé Celso (quem não se lembra da masturbação demorada feita por um ator, em cena, n’Os Sertões, do Oficina?) e de Gerald (que já fez as Fernandas Torres e Montenegro simularem sexo no palco). E vai além: se afirma como um novo e ousadíssimo.

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