Crítica
Corpornô mostra o erótico escancarado e sem pudor
Espetáculo do grupo cearense Cia. Dita é uma mistura de José Celso Martinez e Gerald Thomaz
Corpornô é ousado e curioso
Divulgação
José Celso
Martinez e Gerald Thomaz já chocaram e muito as plateias brasileiras ao
imprimirem nas suas montagens uma estética deveras ousada e desnuda. E
embora diga que faz vista grossa diante do que é produzido neste estilo
no Brasil, o diretor e bailarino cearense Fauller bebe sim, com
propriedade, da fonte daqueles dois diretores anárquicos. Em Corpornô,
encenado anteontem e ontem, no Teatro Hermilo Borba Filho, o rapaz não
poupou a plateia nem se poupou ao escancarar, literalmente, o que o
pudor recrimina.
O trabalho é um teatro que
flerta com a dança de maneira híbrida. Não há texto, mas os olhares e
expressões são certeiros e falam com a plateia. Diante dos sexos
cotidianos e aquelas infinitas situações corriqueiras que, olhadas com o
sentido apimentado, despertam demônios, o público sorri desconcertado,
se desconcerta e, enfim, se percebe – ou prefere sair do teatro.
O corpo dos
bailarinos-atores se contorce e é a musculatura, que simula orgasmos,
quem dança. Desde a moça andando de bicicleta na “companhia” de um
brinquedo erótico aos lutadores de luta-livre que se digladiam em
movimentos também sexuais – e vai daí por diante (coisas que não cabem
ser citadas aqui).
Recorrendo pouquíssimo à
trilha sonora, mas se erguendo basicamente na luz, Corpornô é um
experimento curioso. É espetáculo vertiginoso, que relê, mesmo sem se
propor a isso, as nudezes propostas por Zé Celso (quem não se lembra da
masturbação demorada feita por um ator, em cena, n’Os Sertões,
do Oficina?) e de Gerald (que já fez as Fernandas Torres e Montenegro
simularem sexo no palco). E vai além: se afirma como um novo e
ousadíssimo.
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