É certo colocar uma enfermeira sem sintomas do ebola em quarentena?
Governo de Maine, nos EUA, está tentando obrigar uma enfermeira que cuidou de doentes do ebola a ficar em quarentena, mesmo após os exames dela darem negativo, como uma medida de saúde pública
REDAÇÃO ÉPOCA
A epidemia de ebola, que já matou quase 5 mil pessoas na África ocidental, é foco de uma nova controvérsia nos Estados Unidos. Após os primeiros casos chegarem ao país, como a morte de um liberiano em Dallas e o primeiro caso em Nova York, alguns Estados americanos aprovaram medidas para tentar evitar uma epidemia - e uma enfermeira ameaça entrar na Justiça contra elas.
Kaci Hickox é uma enfermeira que trabalhou com os Médicos Sem Fronteira em Serra Leoa, um dos países mais afetados pela epidemia na África. Ela retornou aos Estados Unidos na última sexta-feira (24), quando desembarcou em em Newark, Nova Jersey. Foi lá que seus problemas começaram. O governo de Nova Jersey exigiu que Kaci ficasse em quarentena no aeroporto até ser testada pelo ebola. Ela inicialmente ficou em isolamento em um local sem banheiro ou água por sete horas, em condições que descreveu como "inumanas", até ser encaminhada a um hospital. No hospital, Kaci foi testada duas vezes, e nos dois exames deu negativo: ela não tinha ebola.
Ao ser liberada para voltar para o seu Estado natal, Maine, no nordeste dos Estados Unidos, Kaci passou por nova controvérsia. O governo ordenou que ela ficasse em quarentena domiciliar por 21 dias - o período máximo que o ebola pode se manifestar - mesmo com o resultado dos exames indicando que ela não tem o vírus. O governador de Maine, Paul LePage, disse que se ela não ficar em "quarentena voluntária" em casa, irá a Justiça para conseguir isso à força.
Kaci resolveu comprar a briga. Seu advogado classificou a medida como "ilegal e inconstitucional". À imprensa americana, a enfermeira disse que está completamente saudável, que monitora a sua temperatura duas vezes ao dia e que não apresenta os sintomas do vírus. Nesta quinta-feira (30), para marcar posição, ela saiu de casa para um passeio de bicicleta ao lado do namorado - acompanhada de perto pela imprensa, por curiosos e pela polícia local, que não pode prendê-la sem um mandado judicial.
O caso da enfermeira levanta um debate: as medidas impostas pelos governos são efetivas, ou são apenas produto de medo e pânico? Apenas uma pessoa morreu de ebola nos Estados Unidos, mas ainda assim foi o suficiente para várias reações exageradas no país. Há relatos de escolas e faculdades negando ou cancelando bolsas de estudos para alunos da África, casos de pessoas com outras doenças que foram hostilizadas ou isoladas, além de grupos políticos tentando usar a epidemia para fechar fronteiras e aprovar restrições para imigrantes de países que não têm nenhuma relação com a epidemia, como o México.
Por outro lado, também há argumentos consistentes a favor das medidas de quarentena. Os médicos e enfermeiras fazem parte do principal grupo de risco do ebola. Até o momento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) identificou 521 casos de médicos ou enfermeiras infectados, dos quais 272 morreram. Além disso, o ebola demora a se manifestar e uma pessoa infectada pode acabar entrando no país com o vírus sem ser detectada, como aconteceu em outros casos. O governo de Maine argumenta que não precisa sequer ser uma quarentena forçada - bastaria a enfermeira evitar lugares públicos, como metrô e shoppings, por 21 dias, para evitar que a epidemia se espalhe. De toda forma, o governo e a enfermeira não entraram em um acordo, e o caso deve ser levado à Justiça.
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