Livro revela rebeldia caipira de Inezita Barroso e guerra ao "sertanojo"
Tiago Dias
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
"A verdade é que esse pseudosertanejo atual é música inventada pela indústria, sem raiz, paupérrima, sempre a mesma letra, sempre o mesmo ritmo! Um modismo", desabafa no livro.
Sua posição não é uma novidade. Inezita foi uma rebelde desde pequena. No livro, ela conta como decidiu cantar após assistir ao show da Carmem Miranda, e da resistência que sofreu dos pais "caretas". Moça da sociedade paulistana, ela sempre atraiu olhares pelo cabelo curto, o violão a tiracolo e a disposição em se enfiar nas rodas de viola dos trabalhadores rurais. "Ela sempre estava nas casinhas dos caboclos das fazendas das avôs. Ela acompanhava as rodas de improviso, e recolhia – como ela costuma dizer – músicas como 'Moda de Pinga'", conta o jornalista.
Mas que aquelas musiquinhas eram todas água-com-açucar, ah, isso eram , sobre o fenômeno da Jovem Guarda
A rainha, no entanto, faz suas ressalvas. O cantor Daniel sempre tem espaço em seu programa. Chitãozinho e Xororó, por cantarem e tocaram como nos velhos tempos, também são cativos entre os convidados – desde que apareçam sem guitarra e teclado. "Nós já sabíamos disso quando fomos convidados" explicou Chitãozinho ao UOL. "Ela sempre foi muito dedicada ao gênero caipira, é uma defesa dessa raiz. Tem pessoas que acham que a modernização fere a origem".
Divulgação
Desde os anos 70 na estrada, Chitãozinho e Xororó não escondem que
gostam das novidades, mas reverenciam Inezita, indiretamente, no
programa que apresentam no SBT, "Festival Sertanejo". "Temos um quadro
com músicas de raiz e é um dos momentos de maior audiência. Isso prova
que Inezita tem muita razão em falar sobre isso. Gosto do novo, mas
temos que manter a raiz, é uma responsabilidade nossa", explica
Chitãozinho.
Daniel, que escreve a apresentação do livro, é apenas elogios à
cantora. "Inezita para mim é uma referência e há muitos anos nos
conhecemos quando eu e o João Paulo participamos do programa pela
primeira vez. Ela tem sido a haste da nossa bandeira da música caipira
sertaneja, seu papel na nossa história é fundamental."Ela sempre foi muito dedicada ao gênero caipira, é uma defesa dessa raiz. Tem pessoas que acham que a modernização fere a origem , sobre Inezita Barroso
"Salva pelo Iê Iê Iê"
Inezita presenciou a efervescência cultural da São Paulo dos anos 40, inaugurou a tradição cinematográfica paulista dos estúdios da Vera Cruz, onde atuou em alguns filmes, foi a primeira cantora contratada da TV Record – antes de Elis Regina -, e viajou pelo interior do país com o primo e um amigo, a bordo do seu jipe, "recolhendo" temas folclóricos. Era independente e mais rebeldes que a turma da Jovem Guarda. No entanto, com a chegada de Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléia na TV, foi deixada. Os shows minguaram, as apresentações na TV idem, os cachês desapareceram.
"As rádios e gravadoras só queriam sabem do pessoal do banquinho-e-violão ou daquela moçadinha cabeluda e suas guitarras estridentes", ela conta. Acabou aproveitando a febre para ensinar violão para a garotada na época. Foi, como conta no livro, "salva pelo Iê Iê Iê". No quesito musical, ela responde na lata: "Mas que aquelas musiquinhas eram todas água-com-açúcar, ah, isso eram". Roqueiro, Carlos Eduardo Oliveira disse que não teve problemas ao visitar Inezita em sua casa em São Paulo para entrevistá-la. "Mas ela não gosta mesmo de coisas eletrônicas, coisas que passam pelo plug".
Ainda no ar, "Viola Minha Viola" se tornou um dos programas musicais mais tradicionais da TV. Inezita, no entanto, não participou das duas últimas gravações, nas últimas semanas, por estar em Campos de Jordão, na casa da filha, descansando. Não atendeu ninguém e sua equipe também negou o pedido de entrevista do UOL.
Quando estiver revigorada, voltará para gravar e marcar, finalmente, sua posse na Academia Paulista de Letras -- título que recebeu no começo do mês. Ela quer estar bem e com energia para assumir a cadeira como folclorista.
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