Pesquisa de estudantes avalia efeitos da
anorexia e gordofobia em MG
Futuros jornalistas fazem trabalho para debater o culto ao corpo.
Mostra fotográfica da pesquisa traz plus size em ‘luta’ contra manequim.
A partir de uma experiência pessoal, o estudante de jornalismo Ralph Diniz, de 28 anos iniciou uma pesquisa de um ano sobre ‘Corpolatria’ , o culto ao corpo, e as consequências positivas e negativas que a prática pode acarretar em diferentes tipos de pessoas, em São Sebastião do Paraíso (MG). O resultado será apresentado no final deste ano na Universidade de Franca(Unifran) em Franca (SP) por meio de artigo científico, monografia, documentário, programa de rádio e uma exposição fotográfica com temas tabus que vão desde a anorexia à gordofobia. Todo trabalho teve a parceria do também estudante Dariton Souza.
Com o título “Corpolatria: trevas ou luz”, os estudantes trazem indagações e diferentes citações de filósofos e estudiosos sobre o tema, afim de tentar encontrar explicações para o exacerbado culto ao corpo. “Nesta religião, não há um deus, um santo ou um profeta que seja. Na corpolatria, o ser superior a ser reverenciado, louvado e adorado é o próprio ‘eu’”, dizem os estudantes logo no início do trabalho.
Dados da última pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), divulgada em janeiro de 2014 corroboram com a estatística e mostram que o número de academias aumentou 133% nos últimos 5 anos. A pesquisa, feita entre 2007 e 2012, mostra que o setor saltou de 9,3 mil estabelecimentos para 21,7 mil durante o período.
Por isso, a modelo plus size Vanessa Benevides, que recentemente lançou o primeiro calendário com modelos gordinhas do Brasil, topou posar para o projeto, que traz uma mostra fotográfica onde questiona os padrões de beleza e os excessos do culto ao corpo. O projeto com 10 imagens foi batizado como 'Nocaute: destruindo um mito chamado padrão de beleza'.
“A forma como vemos nosso corpo determina a forma de participar do mundo. Já vi muita gente que prefere morrer do que viver nos corpos que habitam. Eu já fui assim e me recuperei. O mundo e essa ideia do ‘padrão de beleza’ precisam mudar. E dá para ser feliz com o próprio corpo. Por que os corpos e roupas precisam ter um tamanho pré-determinado? Temos que levantar a bandeira do ‘Basta a gordofobia e corpolatria’ sim. Essa luta deve ser de todos nós”, pontuou Vanessa.
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Em uma sequência de imagens, ela aparece em um octógono, semelhante a um ringue, em um primeiro instante acuada pela manequim, que aparenta exercer uma supremacia sobre ela. “Colocamos a Vanessa inicialmente presa, com correntes, e acuada pela manequim de loja. Durante a sequência, ela vai se libertando das amarras e por fim consegue vencer a luta contra a manequim. Quisemos mostrar que a mulher gorda tem tanto poder quanto a magra e que não existe problema em ela ser gorda, mas sim em se aceitar assim. A Vanessa já enfrentou várias causas e agora se superou e ajuda outras mulheres”, disse Diniz.
A modelo se exime da apologia à obesidade e se defende: “não estou dizendo para as pessoas serem gordas, mas a corpolatria é o culto extremo ao corpo, algo que se torna doentio. Muitas pessoas tem a imagem de si mesmas distorcidas diante do espelho e muitas vezes entram em um abismo em busca do padrão imposto como o correto e aceitável. Isso traz doenças graves como anorexia e bulimia e minha luta é para que possamos aceitar de coração as diferenças e amarmos as pessoas como elas são”, completou.
“Depois da pesquisa consegui relatar o que vivi”
A fala de Vanessa exemplifica o que aconteceu com Ralph há 10 anos, quando ele perdeu o pai ainda na adolescência e enfrentou uma depressão O sentimento motivou distúrbios alimentares que se seguiram, como anorexia e bulimia, os mesmos que deram origem ao trabalho de conclusão de curso.
A fala de Vanessa exemplifica o que aconteceu com Ralph há 10 anos, quando ele perdeu o pai ainda na adolescência e enfrentou uma depressão O sentimento motivou distúrbios alimentares que se seguiram, como anorexia e bulimia, os mesmos que deram origem ao trabalho de conclusão de curso.
“Sempre fui uma criança gordinha e quando cresci, engordei mais ainda. Com 16 anos, eu tinha obesidade mórbida e era alvo da gordofobia. Pesava 40% a mais do que deveria, mas quando meu pai morreu, emagreci muito rápido por causa da depressão. Perdi 35 kg em seis meses e adquiri os transtornos alimentares, mas não associei. Eu me olhava no espelho e mesmo com 60 kg, me enxergava com 100 kg”, relatou.
Após sofrer por cerca de quatro anos com a doença, e sem saber do que se tratava, Ralph buscou tratamento psicológico e nutricional e conseguiu se recuperar. Além de ter adquirido mais 10 kg e ter equilibrado o próprio peso. “Acredito que estou curado e isso me influenciou muito na escolha do tema. Eu não falava sobre minha história pessoal e depois da pesquisa, de levantar dados e ouvir pessoas que passaram pelo mesmo problema, consegui relatar o que sofri, porque nem minha mãe sabia. Por meio da pesquisa consegui mostrar uma parte minha que estava oculta”, acrescentou.
Ana e Mia: documentário sobre transtornos alimentares
Além do ensaio fotográfico e da pesquisa acadêmica produzida pela dupla, um documentário também foi feito. Pela internet, os estudantes entraram em contato com grupos que se organizam via rede social e são chamados de “Ana e Mia”, em um diminutivo de “Anorexia e Bulimia” e também em uma forma de identificação entre os portadores do distúrbio, que compartilham ‘técnicas’ sobre como vomitar, como comer e não engordar, entre outros.
Além do ensaio fotográfico e da pesquisa acadêmica produzida pela dupla, um documentário também foi feito. Pela internet, os estudantes entraram em contato com grupos que se organizam via rede social e são chamados de “Ana e Mia”, em um diminutivo de “Anorexia e Bulimia” e também em uma forma de identificação entre os portadores do distúrbio, que compartilham ‘técnicas’ sobre como vomitar, como comer e não engordar, entre outros.
“Nas pesquisas para o documentário eu conheci a Fernada Fahel, que também é estudante de jornalismo e sofreu o mesmo problema. Ela criou o site ‘Despedida de Ana e Mia’ e ajuda garotas que tem distúrbios alimentares e a superarem os problemas, mas, durante o levantamento que fizemos, encontramos grupos que são prós e contras, mas as que são pró não falam, apenas incentivam a prática da bulimia e a anorexia”, contou Ralph.
O material audiovisual traz também o depoimento de uma psicóloga que cuida de pessoas obesas, de um produtor de moda de São Sebastião do Paraíso e das personagens que enfrentaram o problema. A ideia dos produtores foi fortalecer o debate acerca das questões da gordofobia e da anorexia.
“Nossa intenção é continuar com o trabalho, mesmo depois da entrega e da formatura. Temos a intenção de ajudar outras pessoas usando os exemplos que conseguimos para este documentário e para a mostra fotográfica”, finalizou Dariton Souza.
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