Traição pode criar bloqueio para novas
relações amorosas
Rita Trevisan e Simone Cunha
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
- Getty ImagesÉ possível ser feliz sozinho. Mas se isso atrapalha você, procure ajuda
A capacidade de confiar no par é um dos fatores que mais influencia na maneira com que homens e mulheres expressam a sua afetividade. A dificuldade de acreditar no sentimento sincero do outro faz com que muitas pessoas prefiram se isolar ou, simplesmente, ter apenas encontros casuais, abrindo mão de envolvimentos amorosos.
"Existem pessoas que se fecham totalmente aos relacionamentos. Outras até se apaixonam, mas não conseguem estabelecer vínculos duradouros", diz Lygia Merini, psiquiatra pela Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), com extensão em Pesquisa Clínica pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
E, embora seja possível viver bem mesmo sem aprofundar laços, há as que sofrem com sentimentos como a angústia, a solidão e culpa, associada à percepção de que estão fazendo algo errado ou condenável.
De acordo com Leiliane Tamashiro, neuropsicóloga do Pro-Mulher do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), o problema quase sempre está associado a uma experiência de traição, que ainda não foi superada.
"No consultório, 99% das pessoas que recebo tiveram alguma vivência negativa com outros parceiros, a maioria envolvendo traição", afirma. Daí a dificuldade de estabelecer uma nova relação de confiança, essencial para a manutenção de um relacionamento estável.
Para o psicanalista Sergio Savian, especializado em relacionamentos, quem passou por uma experiência traumática tende a ver ameaças onde elas não existem. Essas pessoas consideram o comportamento do parceiro que as abandonou ou traiu como um padrão, o que não corresponde à realidade.
"Em algum momento da vida, elas deixaram de confiar nos outros", afirma. Ele diz que, em seu consultório, boa parte dos pacientes apresenta dificuldade de estabelecer vínculos e encontra subterfúgios para não ter de lidar com isso. "O vício em Internet é um deles, pois desvia do contato com a realidade. Além disso, mesmo quando há interação, o envolvimento é mais superficial, sem tanta intimidade", explica.
Sozinho na multidão
É importante destacar que há duas formas de estar sozinho. "Uma delas é simplesmente evitar o contato com o outro. A outra é estar sempre rodeado de gente, conhecer e ficar com várias pessoas, para descartá-las logo depois, antes que a relação tenha chances de amadurecer e se aprofundar", diz Savian.
Portanto, quem convive com a dificuldade de estabelecer vínculos nem sempre deixará de conhecer pessoas e manter uma vida sexual ativa. "Algumas pessoas até se apaixonam com facilidade, mas não conseguem ir adiante. Inventam desculpas para provar a si mesmos que o outro é inadequado ou, então, se sabotam, tornando-se chatos e difíceis de conviver", comenta Savian.
Também é essencial pontuar que nem sempre a dificuldade de entregar-se a um relacionamento está associada a uma experiência negativa vivida com um par. "Pode ser uma característica de personalidade ou, ainda, a consequência de algo que se originou na infância", afirma Lygia.
Segundo Savian, muitas vezes os relacionamentos em que se ingressa na vida adulta tendem a confirmar questões bem ou mal resolvidas da vida infantil. Eles podem até configurar-se como uma extensão das relações vividas com a família original.
"Uma criança que recebe amor internaliza esse sentimento e, na vida adulta, sente que tem muito a oferecer. Ao analisarmos a história de alguém que não consegue vincular-se afetivamente, é bem provável encontrarmos motivos que fizeram aquela pessoa se retrair", comenta o psicanalista.
Passar por um processo de autoconhecimento é essencial para mudar a forma de agir, quando a limitação começa a incomodar. O segundo passo é aprender a lidar com as próprias emoções.
A orientação de um psicoterapeuta pode facilitar o processo. "Quando a dificuldade de estabelecer vínculos realmente atrapalha, gerando angústia e solidão, enfrente-a. É necessário aprender a expressar o que sente e a correr riscos. Afinal, não existem garantias em nenhum tipo de relacionamento", finaliza a neuropsicóloga.
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