Tom Cavalcante volta à TV após 3
anos: "Mais difícil fazer humor hoje"
Leonardo Rodrigues
Do UOL, em Ilhabela (SP)
Do UOL, em Ilhabela (SP)
- DivulgaçãoTom Cavalcanti, de volta à TV no Multishow
Após mais de três anos afastado, Tom Cavalcante já tem data para voltar à TV: em junho, provavelmente no início do mês. Na nova série "Partiu, Shopping?", do Multishow, ele encarnará o atrapalhado segurança de shopping Gildo, o "palhaço" de uma turma que acaba herdando toda a fortuna do empreendimento.
Depois de uma longa temporada de shows em Los Angeles, Tom quer explorar um inédito mundo da TV por assinatura, onde espera por uma liberdade que anda em falta em programas televisivos —e, principalmente, no dia a dia dos brasileiros.
"Era mais fácil fazer humor antigamente. Sem dúvida. Brincava-se. Fazia-se xingamento. Era o humor pelo humor", lamenta o humorista, que diz ter em mãos o roteiro para um filme que reeditará a parceria com amigo Tiririca, sem previsão de lançamento. "Minhas coisas são todas feitas com muito tempo, sabe?"
Em conversa com o UOL no cruzeiro do cantor Roberto Carlos, ele também adianta a possiblidade do lançar um projeto humorístico voltado à internet, em parceria com Gugu Liberato.
Veja os principais trechos da entrevista.
Como será seu personagem no "Partiu, Shopping?"?
É o Gildo. Um segurança que não sabe que é herdeiro da fortuna do shopping. Um cara honesto, decente. É o palhaço da trama, da família que toma conta do shopping, trabalhando ali dentro.
São sete personagens. Tem a Dani Winits, a Monique Alfradique, a Nany People, Camilla Camargo, Alex Gruli, Léo Castro. Acho uma ousadia do Multishow fazer um cenário de um shopping, com a carga de investimento que estão fazendo.
São sete personagens. Tem a Dani Winits, a Monique Alfradique, a Nany People, Camilla Camargo, Alex Gruli, Léo Castro. Acho uma ousadia do Multishow fazer um cenário de um shopping, com a carga de investimento que estão fazendo.
Foi uma ideia que eu havia tido dez anos atrás. Tinha programa com família, em uma casa, programa com escola, com o Chico Anysio, mas nunca houve um programa em um shopping. Eles mandaram fazer duas escadas rolantes de verdade e trouxeram pro estúdio, na Vila Leopoldina [zona oeste de São Paulo]; Quando você vê, vai dizer que é uma praça de alimentação de fato.
Sentia falta de fazer televisão?
Quando eu decidi sair, em 2011, eu já tinha feito uma reflexão sobre isso. Quando eu saísse, e desse um ou dois anos, começaria a sentir falta. E aí, sairia ou não sairia? Dentro dessa "viagem" eu decidi sair.
Eu me preparei bastante, já sabendo que iria embora pra Los Angeles, para investir no meu trabalho. Ver novas situações de cinema, televisão, como os caras trabalham o dia a dia deles lá.
Você quis sair ou a Record não quis renovar o contrato?
Você quis sair ou a Record não quis renovar o contrato?
Não é que não renovaram. Eu decidi sair um ano antes. Fiz acordo com a Record, deixando parte do meu dinheiro lá dentro e "tchau". Não poderia sair como quisesse porque tinha uma cláusula contratual que me amarrava até o final daquele ano. Só o dinheiro que ficou lá.
Pensa em retornar à TV aberta, em paralelo?
Agora, não. No final do ano quase participei do especial do Roberto Carlos. Devido ao trabalho com o Multishow, acho que convém não misturar. O que eu poderia, eventualmente, é fazer uma participação especial em um programa de um amigo, como o Roberto.
Você produziu e atuou em um curta nos Estados Unidos. Vai migrar para o cinema?
Agora estou preparado para isso. E o Multishow trabalha muito com cinema. Todos os atores que estão ali dentro estão fazendo cinema. Não tenho pressa. Melhor esperar um pouco, até 2016, e começar. Quero participar como humorista.
É verdade que você está escrevendo um filme que retoma a parceria com o Tiririca, que fez sucesso na Record?
Tem isso. Agora ele foi pro "Pânico". A gente conversa muito. Nós dois formamos uma parceria muito forte, que incomodava a audiência mesmo. Eram números fantásticos. O "Bofe de Elite", o "Sítio Light", em que a gente fazia mulheres.
O projeto vai sair do papel?
Roteiro já existe. Agora precisa trazer o Mário Viana, para escrever para mim. Tem um argentino roteirista também. Minhas coisas são todas feitas com muito tempo, sabe? Sem pressa de acontecer.
E como foi o namoro com SBT antes de fechar com o Multishow?
O Silvio foi muito honesto comigo. E ficou aberta a relação, a possibilidade. Ele tratou de uma forma muito carinhosa. [Imitando o apresentador] "No momento, tenho que ver o que tem aqui pra você. Tem a Eliana, o Ratinho."
E é verdade. Ele não tem que inventar um programa na grade pra mim. Como seria? Quando? Tem que ser muito bem resolvido. A história ficou em aberto. E aí apareceu o Multishow nesse ínterim.
Pensa em projeto só para internet?
Andei batendo um papo com o Gugu muito interessante, na época em que ele estava fora da TV. A gente se reuniu para falar sobre isso. Falamos muita coisa sobre internet, sobre programação. Aí, depois, ele viajou para Londres, e eu voltei de novo. Está no ar. Existe a possibilidade.
Há limites para o humor?
Depende da maneira como você lida com isso. Gosto do "Porta dos Fundos", por exemplo. Tem coisas muito interessantes. E outras que já não são do meu segmento. Mas curto bastante. Acho que agora a gente teve um exemplo muito grave, do Charlie Hebdo, e acho que o Papa se expressou muito bem sobre isso. É como se eu desse um soco no rosto da sua mãe.
Depende da maneira como você lida com isso. Gosto do "Porta dos Fundos", por exemplo. Tem coisas muito interessantes. E outras que já não são do meu segmento. Mas curto bastante. Acho que agora a gente teve um exemplo muito grave, do Charlie Hebdo, e acho que o Papa se expressou muito bem sobre isso. É como se eu desse um soco no rosto da sua mãe.
Os caras professam aquilo, acreditam no Maomé. E aí você faz uma invasão. Isso tem que ser muito discutido. Se foi realmente liberdade de expressão cerceada ou se entraram no direito de professar uma fé. A gente não pode quebrar certos dogmas. É complicado.
Mas não era para ter acontecido o que aconteceu. O atentado tem que ser repudiado em qualquer instância. Chegar ao limite de matar as pessoas? Enfim, tem que ter muito cuidado.
É mais difícil fazer rir hoje do que na época em que você começou?
Muito mais. Dentro desse processo do limite, do politicamente correto, a gente cria um país um pouco chato. O país fica num ambiente pesado. Não posso falar disso nem daquilo? Imediatamente já se coloca uma situação ali de atingir preconceitos.
Era mais fácil fazer humor. Sem dúvida. Brincava-se. Fazia-se xingamento. Era o humor pelo humor. Eu não faço piada de religião nesse patamar, por exemplo. Não mexo com isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário