Novas drogas para tratar cânceres de sangue obtêm resultados surpreendentes
Débora Nogueira*
Do UOL, em Chicago (EUA)
Do UOL, em Chicago (EUA)
- Débora Nogueira/UOL
Estudos clínicos apresentados neste sábado (30) no congresso norte-americano de oncologia, promovido pela ASCO (American Society of Clinical Oncology), mostram um caminho de esperança para cânceres de sangue como Leucemia Linfoide Crônica, mielomas múltiplos, linfomas e mielofibrose.
As terapias mostram um crescimento no período de remissão, estabilidade no desenvolvimento da doença e, para alguns pacientes, alívio maior ao lidar com a enfermidade.
Mieloma múltiplo
Uma nova droga para mieloma múltiplo deve ser lançada em breve para o tratamento de pacientes com a doença, que já estão resistentes a outros tratamentos. A pesquisa da Janssen, farmacêutica do grupo Johson & Johnson, focou em pessoas que já haviam recebido em média outras cinco terapias. O novo tratamento é feito com anticorpos e está em fase de aprovação no FDA (Food and Drug Administration), órgão que regulamenta os medicamentos dos Estados Unidos, mesmo que ainda esteja em fase 2 de testes.
A droga recebeu a designação de "breakthrough", o que dá um maior grau de importância para a descoberta e pode agilizar o processo de aprovação, mesmo que ainda não tenha sido testada de forma mais abrangente. "A eficácia que encontramos foi impressionante. Estamos descobrindo novas tecnologias para ajudar o sistema imunológico a combater as células cancerosas do mieloma", afirmou o autor do estudo Saad Zafar Usmani, do Levine Cancer Institute, da Carolina do Norte.
Depois de quase dez meses de pesquisa, que envolveu 106 pacientes cuja doença piorou após três outros tratamentos, 30% dos pacientes responderam bem ao medicamento, sendo que três entraram em remissão da doença. Outros dez pacientes tiveram 90% de diminuição da doença e 18, uma resposta parcial ao medicamento. O anticorpo daratumumab teria atrasado a progressão da doença em quase quatro meses e a taxa de sobrevivência no ano seguinte do tratamento foi de 65%.
Os médicos estavam ansiosos pelos resultados da fase 2 de testes do medicamento. "Agora temos uma terapia mais proeminente, os cientistas estão entendendo melhor a biologia das células e como o mieloma funciona. É uma pena que esses remédios demorem tanto para chegar ao Brasil", afirmou o hematologista Dani Larks, enquanto esperava os resultados do estudo.
Segundo Larks, que clinica no Rio Grande do Sul, há muita dificuldade de se medicar a doença pela falta de agilidade da Anvisa em liberar novos medicamentos. "Tenho pacientes que usam as drogas mais modernas que existem, mas para isso eles precisam entrar na Justiça para pedir que os remédios oferecidos em países como os Estados Unidos possam ser importados para serem utilizados no Brasil", afirmou.
Espera-se que quase 27 mil norte-americanos sejam diagnosticados com mieloma múltiplo em 2015. Trata-se de um câncer raro: ele representa 1% dos cânceres e cerca de 2% das mortes. Menos da metade dos pacientes sobrevive no período de cinco anos após o diagnóstico.
O mieloma múltiplo é um câncer incurável no sangue que começa nas células plasmáticas da medula óssea, o "tecido esponjoso" encontrado dentro da maioria dos ossos e que ajuda a produzir as células sanguíneas. O câncer caracteriza-se por um crescimento anormal e descontrolado das células plasmáticas.
O foco do tratamento do mieloma múltiplo em geral não é a cura, mas o prolongamento da vida pelo maior tempo possível, com maior qualidade de vida e redução dos sintomas.
Leucemia Linfoide Crônica
Uma nova combinação de remédios mostrou resultados surpreendentes no tratamento de pacientes com LLC (Leucemia Linfoide Crônica) que já haviam passado por outros tratamentos e apresentado piora.
A combinação de medicamentos em um grupo de 578 pacientes, na fase 3 de testes --a mais abrangente-- reduziu em 80% a progressão da doença ou risco de morte em relação ao grupo de testes, que recebeu placebo (um medicamento sem efeito químico). O benefício foi tão significativo que o grupo placebo passou a também receber a combinação de medicamentos.
O estudo foi liderado pelo professor de medicina da Mayo Clinic, em Jacksonville, na Flórida, Asher Chanan-Khan. "Este foi um dos testes mais rigorosos já conduzidos com LLC e valida sem dúvidas o uso do princípio ibrutinib como uma importante droga contra o câncer", afirmou.
A Leucemia Linfoide Crônica é um câncer do sangue com crescimento lento, que geralmente se origina a partir de células B, um tipo de células brancas do sangue (linfócitos) que se desenvolvem na médula óssea.
A LLC é mais comum em homens que em mulheres, e geralmente o diagnóstico é feito por volta dos 72 anos. Cinco anos é a média de tempo de vida para 78% dos pacientes com LLC após o diagnóstico, 80% dos pacientes com LLC têm algum tipo de anormalidade cromossômica. Para algumas pessoas, a doença não apresenta sintomas, mas outras podem sentir suores noturnos, excesso de hematomas e hemorragias, inchaço dos gânglios linfáticos, fadiga, perda de peso e maior risco de infecções.
*A jornalista viajou a convite da farmacêutica Janssen
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