Quem fuma só no final de semana corre o
mesmo risco de quem fuma todo dia?
Mirthyani Bezerra
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
- Stefano Carnevali/iStockFumante social fuma de vez em quando, geralmente com bebida alcoólica e amigos
O produtor cultural Raoni Silva, 27, tinha 19 anos quando experimentou o primeiro cigarro. Ele bebia em uma noitada no Recife e estava rodeado por amigos que fumavam quando a curiosidade falou mais alto. "Minha mãe fumava e eu sempre quis saber como era. Então, eu pedi um cigarro", diz.
A primeira experiência com o tabaco nunca é agradável. O primeiro trago costuma causar tontura e pode dar enjoo e dor de cabeça, além de deixar um gosto ruim na boca. Mesmo assim, Raoni sentiu vontade de fumar quando se viu novamente em uma festa com bebida alcoólica e muita gente com cigarro na mão. Passou a ser o que se chama de "fumante social", ou seja, a fumar de vez em quando, em festas ou em momentos de descontração.
O que o fumante social não percebe é que a diferença entre fumar cotidianamente e apenas no fim de semana, em bares e baladas, é muita pequena -- os malefícios à saúde são os mesmos (veja a diferença em relação ao fumante passivo).
Segundo Francisco Mazon, pneumologista do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), o risco de desenvolver doenças cardiovasculares e vários tipos de câncer, em longo prazo, tem a ver com a quantidade de cigarros fumados ao longo dos anos, independentemente se eles foram consumidos no dia a dia ou só uma ou duas vezes por semana. "Quem fuma dois maços por dia durante 10 anos e um (maço) por dia durante 20 anos se expõe a um risco bastante parecido de adquirir doenças graves relacionadas ao fumo", afirma Mazon.
Nesse cenário, se quem fuma um cigarro por dia tem 40% a mais de chance de sofrer um infarto do que um não fumante, o fumante social que consome meio maço apenas no fim de semana entra com sobra dentro dessa estatística.
Problemas começam já nos primeiros cigarros
Já no início do consumo, quando ainda é esporádico, o cigarro traz alguns efeitos prejudiciais à saúde, como perda no paladar, dificuldade em sentir cheiro e escurecimento dos dentes. "Quem tem doenças respiratórias prévias, como asma, renite e bronquite, ao fumar, pode desencadear crises mais sucessivas", afirma Alexandre Kawassaki, pneumologista do Hospital 9 de Julho.
Quando teve uma forte crise de amidalite, a jornalista Priscila Ferraz, 22, chegou a parar de fumar completamente. "Sempre tive muito problema na garganta, mas as crises de amidalite aumentaram quando comecei a fumar", diz. Ela conta que teve uma crise tão forte que chegou a ficar quatro meses sem colocar um cigarro na boca. "Agora, eu só fumo nos fins de semana, em festas, quando estou bebendo".
Priscila diz que quer deixar de fumar porque está adotando um estilo de vida mais saudável. "Eu não tenho mais vontade de fumar todos os dias e, agora que estou correndo, sinto no meu corpo os efeitos do consumo do cigarro no fim de semana. Na segunda-feira, por exemplo, eu perco o fôlego e não consigo correr satisfatoriamente", diz.
Álcool e cigarro: ressaca em dobro
Quando está em uma festa ou um bar, a assistente de atendimento de uma produtora de vídeo de São Paulo, Náthalie Vieira, 26, conta que a combinação "cervejinha e cigarro é muito agradável" e dá "sensação de alívio, de bem-estar". Isso acontece porque há uma combinação dos efeitos gerados por cigarro e bebidas. O cigarro é estimulante, enquanto o álcool é depressor. "Quando se usa os dois, as sensações são misturadas, por isso existe uma fortíssima associação entre eles, que induz ainda mais à dependência química", explica Ciro Kilchenchtjen, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
Essa sensação de bem-estar mencionada por Náthalie faz com que o álcool funcione como uma espécie de gatilho para o uso do cigarro. "Há estudos que mostram que 90% dos alcoólatras fumam e, em muitos casos, morrem de doenças relacionas ao uso do cigarro", afirma Kilchenchtjen.
O bem-estar momentâneo tende a virar pesadelo horas depois do consumo combinado. O cigarro potencializa a ressaca. O fumante social já tem uma resposta à falta da nicotina no organismo, o que provoca queda nos reflexos, tontura, enjoos. "No outro dia, dá uma dor de cabeça! Além disso, o cigarro deixa um cheiro muito ruim e queima a boca", conta Náthalie.
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