"Estou vivendo um sonho", diz brasileiro no elenco de "Game of Thrones"
Giselle de Almeida
Do UOL, no Rio
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Cabelo preto, pele em tons de cobre e olhos amendoados escuros. Qualquer semelhança do carioca Diogo Sales, 30, com a descrição de um dothraki deixa de ser mera coincidência em abril, quando o ator surgir como um guerreiro na sexta temporada de "Game of Thrones". Segundo brasileiro a habitar os sete reinos da série da HBO - antes veio Lino Facioli, como Robin Arryn -, o ator foi selecionado por meio de teste em agosto. Duas semanas depois, começou a rodar suas cenas, que se revezaram entre em um estúdio em Belfast, na Irlanda do Norte, e em Almería e no parque nacional Bardenas Reales, na Espanha, até meados de novembro.
Radicado em Londres desde 2011 e com experiência em produções independentes e comerciais, além de uma carreira no teatro que começou no Brasil, ele vive sua primeira grande experiência na TV logo numa das séries mais populares da atualidade. O curioso é que ele nunca assistiu a um só episódio da atração, que é baseada nos livros de George R.R. Martin.
"Comecei a ver depois que peguei o trabalho. Achei legal, mas, para falar a verdade, ainda estou no comecinho. Mesmo assim, não era um trabalho como outro qualquer. Sabia que a série era muito popular, que tinha um nome de peso", diz ele, que comemora essa "experiência única". "Nunca tinha ido para Espanha ou Irlanda. Isso que é legal: ter a oportunidade de fazer o que você ama, ganhar dinheiro e ainda conhecer outros países. Não posso reclamar de nada. Estou vivendo um sonho", afirma.
Sobre a trama, Diogo não revela nenhum detalhe, mas adianta que seu personagem deve aparecer por três ou quatro episódios. Segundo ele, o biotipo ajudou ("Não teria como fazer um amigo do Jon Snow (Kit Harrington), europeu branquinho"), mas o papel exigiu alguns aprendizados. Aprender a andar a cavalo foi um deles, já que os dothraki são conhecidos justamente por serem exímios cavaleiros.
"Fiz mais de dez aulas de equitação, e é uma coisa que quero levar para a vida. O problema é que os cavalos, por mais sejam treinados, fazem o que dá na telha. Uma vez a cena precisava pegar o pôr do sol. Tinha mais de cem figurantes, os cavalos ficaram agitados. Tivemos que refazer no dia seguinte", conta.
O segundo desafio foi decorar os textos num idioma criado especialmente para a série: a língua dothraki. "Não foi muito fácil não (risos). Mas a gente teve preparação e, nas filmagens, tem sempre um instrutor do nosso lado", diz.
O núcleo de Diogo, como sugerido no fim da quinta temporada, traz novos personagens - entre ele um substituto para Khal Drogo (Jason Momoa) como líder do clã. Dentre os atores já conhecidos do público, foi com Emilia Clarke, que vive Daenerys Targaryen, que ele mais conviveu durante as filmagens. "Ela é muito humilde, é tranquilona, não tem aquele estrelismo. Com os outros atores também, criei um vínculo de amizade, parecia que a gente se conhecia há anos. Até hoje trocamos ideias no WhatsApp", diz.
Ainda durante as gravações, o brasileiro já sentiu um pouco do frisson que a saga épica de disputa pelo Trono de Ferro desperta nas pessoas: já foi tietado antes mesmo de aparecer em cena. "Uma vez, em Almería, estava com os outros atores num bar, e alguém contou para alguém que a gente estava fazendo 'Game of Thrones'. Aí começou. A cidade inteira pediu para tirar foto. Ninguém nem sabia quem eu era", lembra ele, aos risos.
Começo no teatro
Nascido e criado no bairro de Botafogo, Diogo faz teatro desde os 15 anos. Em 2002, participou do espetáculo "Capitães da Areia", dirigido por Pedro Vasconcelos, em 2002, e fez parte do elenco da Cia de Teatro Palco Social. Mas foi na Companhia Nós do Morro que encontrou sua passagem para a carreira internacional, com a peça "Os Dois Cavalheiros de Verona", que fez apresentações na Inglaterra. Depois de duas temporadas na terra de Shakespeare, ele encontrou novos trabalhos por lá e resolveu adiar a volta para casa.
"Tinha o sonho de trabalhar internacionalmente, queria aprender outra língua. Já sabia um pouco de inglês e decidi ficar. Vou onde está rolando trabalho. Infelizmente nessa carreira de ator a gente é meio cigano", conta ele, que mora sozinho em Londres, mas visita a família no Rio todos os anos. "Tento escapar do inverno mais crítico aqui, costumo ir para o Brasil em janeiro, fevereiro. Quero ver se faço alguns contatos aí, tenho vontade de trabalhar no Brasil", conta.
Atuar na televisão, no entanto, nunca foi o primeiro objetivo de Diogo. "Mas você vai ficando mais velho, vai vendo que precisa de dinheiro, de outras coisas. Bem ou mal, a televisão te dá essa janela, te mostra para o mundo. Não dá só para viver só de teatro. E também são artes diferentes. Acho difícil fazer cinema e TV, isso te enriquece mais como ator", compara.
O carioca diz que nunca sofreu preconceito por ser um brasileiro tentando uma carreira no exterior, mas percebe uma diferença até pelas oportunidades de trabalho que consegue. "Nessa indústria existe muito estereótipo. No Brasil, na Inglaterra, nos Estados Unidos, em qualquer lugar. Se eu sou chamado para um teste, nunca vai ser para o papel de um europeu. Em Londres a gente vê gente de tudo quanto é tipo, o mundo hoje é multicultural. Mas não é o que transmite a televisão", analisa.
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