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17 de maio de 2013

O bicho vai pegar", diz Fafá de Belém sobre show na Virada

Cantora acaba de lançar o EP Amor e Fé, com quatro canções religiosas


A cantora faz o show de encerramento do palco do Largo do Arouche Foto: Edson Lopes Jr. / Terra
A cantora faz o show de encerramento do palco do Largo do Arouche
Foto: Edson Lopes Jr. / Terra


 
Depois de um período de sete anos sem nenhum trabalho novo, Fafá de Belém acaba de lançar o EP Amor e Fé, com quatro canções religiosas. A cantora paraense apresentou o álbum no último domingo (12), Dia das Mães, em um show gratuito no Parque da Juventude, em São Paulo. Na apresentação, cantou ao lado da filha, Mariana, e teve também a companhia de sua primeira neta, Laura.

Mas é no show que faz neste domingo (19) às 17h, no encerramento do palco do Largo do Arouche na Virada Cultural, também em São Paulo, que Fafá promete surpreender. “Ali o bicho vai pegar! Vai ter de tudo, com direito a Nossa Senhora também”, garantiu ela em entrevista por telefone ao Terra. “Eu vou ter na minha frente pessoas que querem cantar, e vai ser muito engraçado, porque vou tirar muita coisa do meu baú de guardados”, disse. No mesmo palco, haverá shows de artistas como Sarajane, Luiz Caldas e Kaoma.

Na entrevista, entre uma gargalhada e outra, Fafá falou sobre a escolha das músicas para o EP, sobre a vontade de cantar para o papa Francisco I no Rio de Janeiro, sobre a experiência como atriz de novelas da Record (Caminhos do Coração e Os Mutantes) e como jurada do reality show Ídolos e fez uma revelação: detesta estúdio. “Eu detesto. Fico mal, fico doente, tenho febre, entro em crise. Para mim, a pior coisa é o estúdio”, confessou. Confira a seguir a entrevista.

Como surgiu a ideia de fazer esse EP com quatro canções religiosas?
Foi uma ideia que nasceu em 1997, quando eu cantei para o papa João Paulo II. Nós fizemos um CD single com Ave Maria e demos a renda total para a Arquidiocese do Rio de Janeiro. O Brasil é muito rico em Ave Marias, até Raul Seixas tem uma. Aí começamos a pesquisar isso, mas a vida vai levando a gente, a gente caminhando, segundo o Zeca Pagodinho, deixa a vida me levar, vida leva eu... Então em 2007 fui convidada mais uma vez pelo Vaticano para cantar para Bento XVI em Valença, na Espanha, com Montserrat Caballé. E mais uma vez me veio esse desejo de fazer um disco de Ave Marias. Aí foi escolhido Francisco I. Quando foi escolhido um papa latino, com uma ação muito doce, serena, humana, que faz o discurso da opção pelo pobres, eu achei que era hora de fazer meu CD de Ave Marias, porque a fé, a política, a religião, o amor, a liberdade, a democracia são pilares da minha história. E como eu e a cantora somos uma coisa só, uma alimenta a outra, eu fiquei muito comovida com o discurso e com a atitude dele.


Como as músicas foram escolhidas? 
Eu abro com Gracias a La Vida, porque é um tipo de Ave Maria. A Violeta Parra, que cantava essa música, foi perseguida no Chile, era tida como uma subversiva, foi presa. Mercedes Sosa levantou a bandeira dessa música, que era um hino aos povos reprimidos da América Latina. Eu Sou de Lá eu gravei ano passado para o Círio de Nazaré, e hoje a renda, mesmo do EP, é toda dirigida à diocese de Belém. Aí Francisco I confirmou a vinda dele para o Rio de Janeiro e eu pensei em uma Ave Maria em bossa nova, porque o Rio é a bossa nova. Houve um período em que todos faziam Ave Marias, mas aí se parou um pouco, e agora a Ave Maria mais recente é Nossa Senhora do Roberto Carlos, que virou um hino que todo mundo canta e todo mundo se emociona e que é uma musica lindíssima. Com essas fechamos o EP e gravamos tudo em uma semana, do dia 1º a 7 de abril. Dia 10 de abril nós entregamos tudo e mandamos para a fábrica, e dia 7 de maio já estava nas lojas.

Qual a influência do Círio de Nazaré neste trabalho?
Há dois anos eu tenho um espaço e levo amigos queridos para verem o Círio de Nazaré, esse grande momento de fé. São quinze dias em que Nossa Senhora de Nazaré vira chefe de Estado e tudo gira em torno dela. E é uma procissão onde todos estão, todos vão e todos comemoram, independentemente de sua religião. É uma procissão de fé, que é o que me move. E nós fomos desde crianças habituados a ir ao Círio, é uma coisa para nós muito próxima. Já pensei esse ano em fazer uma nova música para o Círio, porque a ação social da arquidiocese de Belém é muito interessante. 

Você também vai cantar para o papa Francisco I?
Olha, isso é o Vaticano que escolhe. Se eu for convidada, será uma honra. Se eu não for convidada, estarei lá assistindo a missa, porque quero muito ouvir esse papa falar. Mas não há nenhum convite oficial. Há especulações, pessoas que dizem que eu estou lá, mas eu não recebi nenhum convite formal. E, enquanto eu não receber esse convite normal, não haverá convite. Se o convite chegar, vocês serão avisados, claro. Mas não há convite formal, e sim muita especulação. Mas nada sai do meu escritório, porque, quando se força uma barra em alguns setores, é aí que o bicho pega. E eu não sou de ficar forçando barra, porque, graças a Deus, na minha vida inteira as coisas chegaram sem que eu tivesse que pertencer a grupos A, B ou C. Sou muito livre na minha ação, muito livre na minha música e obviamente livre nas minhas amizades. 

Você disse recentemente que vai lançar ainda esse ano um álbum despudorado sobre o universo feminino. Como será esse trabalho?
Pois é, nós iríamos gravar em setembro, mas aí Nossa Senhora veio na frente e falou “peraí, primeiro eu e depois as outras Marias”. Então acredito que a gente não vai ter tempo de fazer esse disco, porque estou com a agenda bem puxada, saio daqui e vou para Portugal, depois para a África. Em outubro, tem o Círio de Nazaré. Acredito que a gente vai ter tempo de gravar isso em janeiro ou fevereiro do ano que vem, para soltar em março ou abril. Não tenho tempo de fazer isso agora, porque, para mim, o estúdio é muito penoso.

O estúdio é penoso?
Ah, eu detesto. Fico mal, fico doente, tenho febre, entro em crise. Para mim, a pior coisa é o estúdio. Então eu preciso de um mês e meio pelo menos, para mergulhar, achar repertório, entrar em estúdio e acabar logo. Porque senão eu não faço. E esse mês e meio eu só vou ter lá no período do Natal, e aí não faz sentido, porque agora eu tenho uma neta, então agora tem motivo para o Natal. Quando éramos só eu e Mariana, a gente viajava pelo mundo. Agora tem Mariana, o marido, a família dele, a gente agora tem que fazer Natal.

Mas como vai ser esse álbum?
Não posso te falar! São os recados que a gente manda para namorado, para ex-namorado principalmente. O repertório está maravilhoso. Nós temos quase cem músicas, então eu vou ter que mergulhar para selecionar algumas para gravar. Tem coisas antigas, coisas novas, músicas que me mandaram há tempos atrás e eu não ouvi e, quando ouvi agora, pirei nelas. Quero fazer um repertório pertinente. Senão fica pertinente na minha cabeça, mas fica uma colcha de retalhos para os outros. Mas serão basicamente canções de amor.

Como será o show que você vai fazer na Virada Cultural?
Vou fazer so show de encerramento do palco do Largo do Arouche, com todos os sucessos populares. Ali o bicho vai pegar! Vai ter de tudo, com direito a Nossa Senhora também.

Vai ser uma mistura então.
Você já foi um show do Roberto?

Já.
Então, depois de Côncavo e Convexo, vem o quê? Lady Laura e Nossa Senhora. Não é uma mistura. É um olhar de um artista plural. Onde que Nossa Senhora não cabe em um palco popular? Claro que cabe. Eu vou ter na minha frente pessoas que querem cantar, e vai ser muito engraçado, porque vou tirar muita coisa do meu baú de guardados. Eu sou isso, querida. Eu sou Sedução, Sob Medida, Nossa Senhora, Bilhete, Boi de Parintins, Hino Nacional... Eu sou uma mulher brasileira que gosta de cantar. É como se eu estivesse lavando roupa, entendeu? É isso. Não tenho preconceito. O preconceito está no olho de quem vê. 

O que influencia o seu repertório?
Eu nasci no meio de uma panela de pressão. Mamãe ouvia todos os cantores populares, papai ouvia foxtrote, jazz e grandes bandas americanas. Meu irmão mais velho ouvia jazz, jazz, jazz, MPB, MPB, MPB. Eu e meus irmãos mais novos ouvíamos tudo isso que tocava em casa mais Jesus Christ Superstar, Hair, Beatles, Ray Coniff, Roberto Carlos... Deu nisso, e é nisso que eu continuo apostando. Eu gosto é de cantar. Eu não julgo. Gosto de boa música e não gosto de caricatura. Então música ruim e caricatura eu não canto e nem me visto. O resto, se me emocionar, tô dentro.

Que tipo de caricatura você não gosta?
Ah, muita coisa fake que tem por aí, né, querida. Tem gente que se veste de palhaço para poder cantar Parabéns a Você. Não gosto. Eu não vou me vestir de Nossa Senhora para cantar Nossa Senhora. É simples.

Depois de 38 anos de carreira, quais são seus planos?
Eu nunca fiz planos a longo prazo, não é do meu perfil, não é da minha natureza, não é da minha geração. Eu olho pra trás e me orgulho de toda a minha trajetória, isso eu acho que é o que basta. Eu sempre tive dignidade, nunca me vendi, nunca fiz qualquer negócio, nunca fiquei sentada na porta de alguém para ser atendida, para ser querida, nunca fiz nada que me violentasse e sempre caminhei para a frente. Eu olho pra trás e tenho muito orgulho de tudo o que eu construí. E, para a mim, a herança mais importante que eu posso deixar à minha filha e à minha neta é a minha história.

Você atuou em duas novelas da Record. Pretende fazer outros trabalhos como atriz?
Eu não faço planos a longo prazo, como eu te falei. Se no momento chegar e eu achar bacana, tudo bem. Mas eu sou cantora e gosto de sê-lo.

Como foi a experiência de atuar em novelas?
É muito difícil. É muito texto pra decorar, muito texto pra jogar fora, é complicado. Eu suspendi shows. Tentei manter, mas me dava um nó na memória. Então eu acho muito difícil, mas eu não digo não pra nada. Não vou dizer que nunca mais vou fazer, sei lá. A minha cabeça dá tanta volta, bixo. Sou tão interessada em tantas coisas, tudo me encanta. Então de repente pode chegar uma novela ou um filme que me encante e vou fazer. Então não posso dizer. 

E a experiência como jurada do Ídolos?
Foi maravilhosa, maravilhosa. Mas também não é uma coisa em que eu pense agora. Foi maravilhoso porque já há algum tempo eu queria ajudar as pessoas que chegam. A gente chega desavisada e vendem muita mentira pra gente. Então eu vi muita gente ser abandonada no meio do percurso porque foi mal preparada. O Ídolos me deu a oportunidade de dizer o que eu pensava. Só que no trajeto a gente vai se encantando com eles todos, vira meio que aquele bando de filho pra quem você tem que dar uma orientação. Eu sou muito maternal, leonina, boto tudo embaixo do braço. Então foi muito desgastante, emocional e fisicamente. Quando eu terminei o Ídolos, precisei tirar 15 dias para zerar a minha cabeça, porque eu sonhava com os meninos, tinha pesadelo com os meninos... E ali são sonhos, você tem que tomar muito cuidado com a forma que você fala, porque você não pode matar os sonhos das pessoas. 

Você ainda tem contato com os participantes?
Todos se correspondem comigo, acho muito bonitinho. Me mandam email, me avisam o que eles estão fazendo, me escrevem Facebook, no Twitter... Eu acho que essa é a grande recompensa de ter feito: ganhar a confiança dos meninos. 

Você usa muito as redes sociais?
O Twitter. Acho o Facebook muito lento. Eu tenho uma página e de vez em quando entro e faço uma postagem, mas eu não sei colocar nada, não sei por foto, essas coisas. É o Twitter é aquela coisa de conversar com 100 mil interlocutores. No engarrafamento, o Twitter é um companheiro sensacional.

Você foi muito atuante na época das Diretas Já. Como vê o momento político do Brasil?
Eu acho que estamos num Estado democrático e temos que pensar que a democracia tem de ser observada. Mas eu olho para aquele tempo e fico muito feliz de ter participado daquela grande manifestação em que não houve tragédia, não houve morte. Depois de um período negro de tantas mortes, tanta tortura e tanta violência, a transição era uma grande bandeira verde e amarela circulando pelas praças, pelas ruas, pelas avenidas do País. Então tenho certeza que nós todos que estávamos lá em cima fizemos a ponte entre o povo e a classe política. Agora nós temos um País em que, para pesquisar o passado dos políticos, é só dar um Google e acho que nós somos responsáveis por tudo o que acontecer de bom e de mau, porque afinal estamos num Estado democrático.

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