Apesar do prestígio, discos de Rossi não estão à venda
Uma ausência comum a cantores românticos preteridos pela crítica e amados pelo povo, dizem historiadores
Se antes estava difícil, agora ficou ainda mais complicado conseguir um disco de Reginaldo Rossi. Atualmente, entre os fornecedores, há apenas dois produtos disponíveis para encomenda: o Blu-Ray Cabaret do Rossi (2010) e o CD Reginaldo Rossi (2006). Algumas lojas mantêm discos nos estoques, mas, aqui no Recife, as últimas unidades viraram presentes de Natal ou um item adquirido no calor da saudade. Os pedidos, aliás, devem ser feitos com antecedência: os prazos de entrega chegam a 30 dias úteis.
O mercado nem pode experimentar um boom de vendas dos produtos de Rossi, como acontece como artistas de todo o mundo, especialmente os grandes astros. Quando Michael Jackson morreu, em 2009, foram 125 mil cópias vendidas em dois dias, 80 vezes a quantidade antes da notícia. Em questão de horas, ele ocupou as 15 primeiras posições entre os mais comercializados da Amazon. Amy Winehouse, encontrada morta em julho de 2011, vendeu 855 mil álbuns nos 12 meses posteriores à morte, além de 1,15 milhão de downloads, contra 58 mil no ano anterior. A única referência comparativa disponível de Rossi é que o álbum Mon amour, meu bem, ma femme (2012), o mais recente, disponível no mês passado, esgotou depois de o Rei do Brega adoecer.
A situação é bem diferente dos tempos áureos do Rei. “Isto me foi dito por um diretor da EMI: quem sustentava a gravadora na década de 1970 eram Reginaldo Rossi, The Fevers, Agnaldo Timóteo, José Augusto e Fernando Mendes. Existe uma série de artistas que estão na mídia e não vendem nada”, disse, certa vez, o Rei do Brega. Ele conquistou um disco de diamante, um de platina duplo, dois de platina e 14 de ouro, de acordo com o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, em cuja versão digital “Reginaldo Rossi” é o verbete mais visitado da semana. “Ele sempre soube que o que o público queria era exatamente o que ele fazia com sucesso”, pontua o pesquisador e historiador Ricardo Cravo Albin, presidente do Instituto Cravo Albin. “Ele atingia mais diretamente pela facilidade e simplicidade, pela pungência e radicalidade”.
Reginaldo Rossi - Ao vivo (1998), impulsionador do retorno aos holofotes midiáticos nacionais, vendeu mais de 1,2 milhão de cópias, de acordo com Sandro Nóbrega, empresário do Rei há 24 anos. Apesar disso, saiu de catálogo e entrou para a enorme lista de artigos de colecionador à qual estão condenados os artistas populares tachados de bregas. Cabaret do Rossi (2010), com o qual Rossi conquistou o 22º Prêmio da Música Brasileira na categoria cantor popular, não foi relançado, apesar de esgotado. Uma versão fabricada pela produção do Rei e ofertada em shows vendeu 40 mil cópias.
De novidade, nada por vir. “A gente tinha a ideia de fazer um DVD no segundo semestre. Ele até já tinha garranchos de músicas, mas nada pronto”, conta Nóbrega. Rossi participaria dos discos de Cristina Amaral e Israel Filho. Há apenas duas gravações inéditas, em estúdio, para Recordando em casa, o primeiro DVD da carreira solo de Binno Batista, o baixista da banda. O Rei gravou Leviana e Lua de mel. “Foi no começo desse ano. Estou esperando editar. Ele me dava muitas dicas de como se portar no palco, repertório”, recorda.
As soluções para arrematar um disco são opostas: vêm dos sebos ou das lojas online, onde são comercializados vinis antigos, CDs usados ou edições digitais dos álbuns. “A procura é sempre grande, mas, depois que Rossi adoeceu, aumentou. Ele é quem mais vende depois de Roberto Carlos”, compara Antônio Pacas, dono de loja de discos no centro da cidade.
Na iTunes Store, há 11 opções - algumas da década de 1970 - à venda, a preços entre 6,99 a 14,99 dólares. A Apple não comentou futuros lançamentos ou aumento de vendas recente. Na Amazon.com, há vinis usados a partir de 15 dólares e discos usados de até 80 dólares. Agora é garimpar, recorrer às coleções antigas dos tios ou torcer para um relançamento (a maior parte do catálogo é da Universal, que acabou de relançar os quatro primeiros discos de Odair José).
Últimas unidades
O que pode ser encontrado à venda
Cabaret do Rossi
(Blu-Ray, 2010)
Contém Dama de vermelho, única vez em que Rossi gravou a canção, e pérolas da roedeira, como Na hora do adeus, Meu fracasso, Vidro fumê.
Brasil popular: Reginaldo Rossi
(CD, 2006)
São 13 faixas, com as clássicas Em plena lua de mel, A raposa e as uvas, Mon amour, meu bem, ma femme e Se meu amor não chegar.
Mais vendidos
Reginaldo Rossi - Ao vivo (1998)
Meus momentos (1999)
A raposa e as uvas (1982)
Reginaldo Rossi (2000)
Reginaldo Rossi - Ao vivo, o melhor do brega (2003)
Três perguntas >> Paulo César Araújo, autor do livro Eu não sou cachorro, não, sobre música romântica
Há apenas dois discos em catálogo de Reginaldo Rossi. Isso tem algum significado mercadológico?O mercado tem sido assim: os artistas da MPB têm discografia relançada, obra de catálogo, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento. Os mais populares têm basicamente coletâneas. Só agora a Universal lançou os quatro primeiros discos de Odair José em CD (Quatro tons de Odair José, R$ 79,90). É a regra com os bregas, os populares. Acontece com Evaldo Braga, Fernando Mendes.
É um sinal de descaso?
É um sinal de descaso, preconceito, descuido, pouca atenção à obra desses artistas. Um catálogo sempre tem altos e baixos. Um disco de Caetano vende mais, outro menos, mas está lá. Com os populares, as gravadoras não querem arriscar, querem retorno imediato.
Rossi dizia que os artistas bregas sustentavam as vendas das gravadoras nas décadas de 1970. Você verificou isso nas pesquisas?Para as gravadoras, era importante ter os artistas de prestígio. Mas, para ter Veloso, que vendia 40 mil, a Polygram precisava ter Odair José, que vendia mais de 500 mil. Eram os bregas que garantiam a vanguarda, a ousadia dos artistas da MPB. É o que Rossi dizia: o disco dele vendia, mas o que ficava em catálogo era o de MPB.
DP
Se antes estava difícil, agora ficou ainda mais complicado conseguir um disco de Reginaldo Rossi. Atualmente, entre os fornecedores, há apenas dois produtos disponíveis para encomenda: o Blu-Ray Cabaret do Rossi (2010) e o CD Reginaldo Rossi (2006). Algumas lojas mantêm discos nos estoques, mas, aqui no Recife, as últimas unidades viraram presentes de Natal ou um item adquirido no calor da saudade. Os pedidos, aliás, devem ser feitos com antecedência: os prazos de entrega chegam a 30 dias úteis.
O mercado nem pode experimentar um boom de vendas dos produtos de Rossi, como acontece como artistas de todo o mundo, especialmente os grandes astros. Quando Michael Jackson morreu, em 2009, foram 125 mil cópias vendidas em dois dias, 80 vezes a quantidade antes da notícia. Em questão de horas, ele ocupou as 15 primeiras posições entre os mais comercializados da Amazon. Amy Winehouse, encontrada morta em julho de 2011, vendeu 855 mil álbuns nos 12 meses posteriores à morte, além de 1,15 milhão de downloads, contra 58 mil no ano anterior. A única referência comparativa disponível de Rossi é que o álbum Mon amour, meu bem, ma femme (2012), o mais recente, disponível no mês passado, esgotou depois de o Rei do Brega adoecer.
A situação é bem diferente dos tempos áureos do Rei. “Isto me foi dito por um diretor da EMI: quem sustentava a gravadora na década de 1970 eram Reginaldo Rossi, The Fevers, Agnaldo Timóteo, José Augusto e Fernando Mendes. Existe uma série de artistas que estão na mídia e não vendem nada”, disse, certa vez, o Rei do Brega. Ele conquistou um disco de diamante, um de platina duplo, dois de platina e 14 de ouro, de acordo com o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, em cuja versão digital “Reginaldo Rossi” é o verbete mais visitado da semana. “Ele sempre soube que o que o público queria era exatamente o que ele fazia com sucesso”, pontua o pesquisador e historiador Ricardo Cravo Albin, presidente do Instituto Cravo Albin. “Ele atingia mais diretamente pela facilidade e simplicidade, pela pungência e radicalidade”.
Reginaldo Rossi - Ao vivo (1998), impulsionador do retorno aos holofotes midiáticos nacionais, vendeu mais de 1,2 milhão de cópias, de acordo com Sandro Nóbrega, empresário do Rei há 24 anos. Apesar disso, saiu de catálogo e entrou para a enorme lista de artigos de colecionador à qual estão condenados os artistas populares tachados de bregas. Cabaret do Rossi (2010), com o qual Rossi conquistou o 22º Prêmio da Música Brasileira na categoria cantor popular, não foi relançado, apesar de esgotado. Uma versão fabricada pela produção do Rei e ofertada em shows vendeu 40 mil cópias.
De novidade, nada por vir. “A gente tinha a ideia de fazer um DVD no segundo semestre. Ele até já tinha garranchos de músicas, mas nada pronto”, conta Nóbrega. Rossi participaria dos discos de Cristina Amaral e Israel Filho. Há apenas duas gravações inéditas, em estúdio, para Recordando em casa, o primeiro DVD da carreira solo de Binno Batista, o baixista da banda. O Rei gravou Leviana e Lua de mel. “Foi no começo desse ano. Estou esperando editar. Ele me dava muitas dicas de como se portar no palco, repertório”, recorda.
As soluções para arrematar um disco são opostas: vêm dos sebos ou das lojas online, onde são comercializados vinis antigos, CDs usados ou edições digitais dos álbuns. “A procura é sempre grande, mas, depois que Rossi adoeceu, aumentou. Ele é quem mais vende depois de Roberto Carlos”, compara Antônio Pacas, dono de loja de discos no centro da cidade.
Na iTunes Store, há 11 opções - algumas da década de 1970 - à venda, a preços entre 6,99 a 14,99 dólares. A Apple não comentou futuros lançamentos ou aumento de vendas recente. Na Amazon.com, há vinis usados a partir de 15 dólares e discos usados de até 80 dólares. Agora é garimpar, recorrer às coleções antigas dos tios ou torcer para um relançamento (a maior parte do catálogo é da Universal, que acabou de relançar os quatro primeiros discos de Odair José).
Últimas unidades
O que pode ser encontrado à venda
Cabaret do Rossi
(Blu-Ray, 2010)
Contém Dama de vermelho, única vez em que Rossi gravou a canção, e pérolas da roedeira, como Na hora do adeus, Meu fracasso, Vidro fumê.
Brasil popular: Reginaldo Rossi
(CD, 2006)
São 13 faixas, com as clássicas Em plena lua de mel, A raposa e as uvas, Mon amour, meu bem, ma femme e Se meu amor não chegar.
Mais vendidos
Reginaldo Rossi - Ao vivo (1998)
Meus momentos (1999)
A raposa e as uvas (1982)
Reginaldo Rossi (2000)
Reginaldo Rossi - Ao vivo, o melhor do brega (2003)
Três perguntas >> Paulo César Araújo, autor do livro Eu não sou cachorro, não, sobre música romântica
Há apenas dois discos em catálogo de Reginaldo Rossi. Isso tem algum significado mercadológico?O mercado tem sido assim: os artistas da MPB têm discografia relançada, obra de catálogo, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento. Os mais populares têm basicamente coletâneas. Só agora a Universal lançou os quatro primeiros discos de Odair José em CD (Quatro tons de Odair José, R$ 79,90). É a regra com os bregas, os populares. Acontece com Evaldo Braga, Fernando Mendes.
É um sinal de descaso?
É um sinal de descaso, preconceito, descuido, pouca atenção à obra desses artistas. Um catálogo sempre tem altos e baixos. Um disco de Caetano vende mais, outro menos, mas está lá. Com os populares, as gravadoras não querem arriscar, querem retorno imediato.
Rossi dizia que os artistas bregas sustentavam as vendas das gravadoras nas décadas de 1970. Você verificou isso nas pesquisas?Para as gravadoras, era importante ter os artistas de prestígio. Mas, para ter Veloso, que vendia 40 mil, a Polygram precisava ter Odair José, que vendia mais de 500 mil. Eram os bregas que garantiam a vanguarda, a ousadia dos artistas da MPB. É o que Rossi dizia: o disco dele vendia, mas o que ficava em catálogo era o de MPB.
DP
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