Elas mandam no rap
Com letras polêmicas e uma atitude transgressora, que lembra os rappers
dos anos 1990, mulheres como Iggy Azalea dominaram o hip-hop
NINA FINCO E DANILO VENTICINQUE
Desde que o rap
foi criado nos anos 1960, na Jamaica, o estilo é dominado pelos homens.
Grupos de rap como Run DMC, GrandMaster Flash, Furious Five e
Zulu-Nation ganharam fama com letras notoriamente machistas. O cenário
mudou pouco nas décadas seguintes. Apesar de exceções, como MC Lyte ou
Missy Elliot, as mulheres no hip-hop eram tema, não protagonistas. Em
2013, o improvável aconteceu. Iggy Azalea, uma rapper branca de curvas
generosas, nascida na Austrália, chamou a atenção das gravadoras. Um ano
depois, ela conquistou as rádios e a internet com a canção “Fancy”, em
parceria com a cantora Charlie XCX. Depois, quebrou recordes de venda e
se tornou a líder de uma nova geração de mulheres no rap.
Amethyst Amelia Kelly, ou Iggy, nasceu na cidade litorânea de Sydney em
1990. Entrou em contato com o rap por meio da internet. Deslumbrada
pelo estilo de vida dos artistas do gênero, ela começou a escrever as
próprias músicas e decidiu, aos 13 anos, que se mudaria para os Estados
Unidos para seguir carreira. Filha de pai pintor e mãe faxineira, não
tinha dinheiro para sair de casa. Passou a ajudar a mãe a limpar quartos
de hotéis. Com 16 anos, disse que passaria duas semanas com um amigo em
Miami e viajou. Não voltou mais. De lá, Iggy seguiu viajando pelo sul
dos Estados Unidos. Trabalhou como modelo em cidades como Atlanta e
Houston. Em 2011, chegou a Los Angeles e gravou a mixtape Ignorant art.
Àquela altura, seu dinheiro estava se esgotando e nada ainda de fama.
Então veio o golpe de ousadia: ela decidiu gastar tudo o que tinha para
gravar o clipe da canção “Pu$$y” (uma gíria para “vagina”, em inglês).
No clipe da música, feito na varanda de uma casa típica de subúrbio
americano, o 1,78 metro e os 62 quilos de Iggy aparecem num top listrado
e calça amarela apertadíssima, enquanto lambe um picolé de forma
apelativa. Foi impossível ignorar. O vídeo viralizou e chamou a atenção
do rapper T.I., que virou mentor dela. No ano seguinte, Iggy assinou
contrato com a gravadora Grand Hustle Entertainment. Seu primeiro álbum,
The new classic, lançado em abril deste ano, estreou em
terceiro lugar na lista da Billboard 200. Em seguida, ela se tornou a
primeira mulher do hip-hop a ter duas músicas de sucesso entre as cinco
mais ouvidas da lista Billboard Hot 100 – o single “Fancy” e a
colaboração na música “Problem”, de Ariana Grande. Antes de Iggy, apenas
os Beatles haviam feito o mesmo, em 1964.Nos videoclipes, Iggy também segue um estilo já adotado por Nicki. Ambas apostam nas curvas acentuadas – Nicki tem 114 centímetros de quadril e 66 centímetros de cintura, enquanto Iggy tem 94 centímetros e 58 centímetros, respectivamente – e letras que falam de amor, sexo e da indústria da música. As duas disputam o topo das paradas. Em junho, depois de vencer a categoria Melhor Cantora de Hip-Hop pela quinta vez consecutiva, na premiação BET Awards, Nicki alfinetou a concorrente ao dizer: “Quando se ouve Nicki Minaj cantando, foi ela mesma que escreveu”. Era uma referência ao boato de que T.I. cria as letras de Iggy. A troca de farpas é comum nesse mundo. Entre homens, chegam a acabar em tiroteio. As meninas se comportam com mais classe e só trocam alfinetadas.
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