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1 de agosto de 2014

Quem é “O Demônio” – o homem acusado de derrubar o avião da Malaysia Airlines

Temido mesmo entre seus companheiros, Igor Bezler nasceu na Criméia. Segundo o Serviço Secreto Ucraniano, é um antigo agente da inteligência russa. Parece um vilão de ficção tornado real

REDAÇÃO ÉPOCA
Igor Bezler fala a suas tropas. Pela ferocidade, ele ficou conhecido como "Demônio", um providencial trocadilho com seu nome (Foto: Reprodução/ Youtube)
Igor Bezler já dirigiu uma funerária. Nascido na Criméia, Bezler morou por anos na Rússia antes de retornar à Ucrânia. Lá, até onde se sabe, comandou uma funerária na cidade de Gorlovka. Passado. Hoje, Bezler é um dos líderes dos rebeldes pró-Rússia e um dos homens mais temidos em toda a Ucrânia. Conhecido por sua ferocidade, recebeu o apelido de “O Demônio”. O cognome é, em parte, um trocadilho – em russo, demônio se diz “Bes”, palavra parecida com a forma abreviada de seu sobrenome, “Bez”. O título lhe cai bem.

Temido mesmo entre seus companheiros, Bez é apontado como o responsável pela queda do voo MH17 da Malaysia Airlines.
De acordo com o Serviço Secreto Ucraniano, foram Bez e seus homens que derrubaram o avião. Os ucranianos interceptaram uma ligação entre Bez e um militar russo feita dois minutos depois de a aeronave ser abatida: “Nós acabamos de derrubar um avião. Foi o grupo de Miner. Ele caiu perto de Enakievo”, diz o rebelde.

Segundo o Serviço Secreto Ucraniano, Igor Bezler é um antigo agente de Inteligência Russo. Outros, segundo o site Mic, suspeitam que Bez tenha sido desligado e não tenha mais relações oficiais com os russos. Na Ucrânia, tornou-se um dos principais comandantes da autoproclamada República Popular de Donetsk.

>>"Derrubamos um avião"

Gorlovka é uma cidade no leste ucraniano, 40 minutos distante de Donetsk. Desde que os conflitos começaram na região, Bez estabeleceu ali sua base de ação. Depois de negociações por telefone, o jornalista Shaun Walker, do jornal britânico The Guardian, conseguiu autorização para entrevistá-lo. Levou consigo um colega russo. A entrada da cidade, segundo contado por Walker, foi cercada por barricadas e é protegida por homens fortemente armados. Os rebeldes são donos de fuzis Kalashnikovs a lançadores de granadas. Sob o comando de Bez, a milícia da cidade ganhou fama de disciplinada e eficiente. Em abril, foi publicado um vídeo no qual Bez dá ordens aos subordinados. Nas imagens, identifica-se como um tenente do exército russo – algo que não é:

O edifício central da administração da cidade lhe serve como quartel general. Lá, mesmo seus oficiais devem deixar de lado suas armas e telefones antes de entrar para uma audiência com O Demônio em seu escritório. Os detalhes do local são cartunescos: no canto de uma das salas, os rebeldes criam um grupo de coelhos batizados em homenagem a líderes ucranianos. Assim, eles podem matar e comer seus adversários – ou seus homônimos animais. No banheiro, em lugar de papel higiênico, são usadas páginas do Código Civil da Ucrânia.
Bez chamou atenção no começo de junho ao aparecer em um vídeo  em que exige a liberação de separatistas pró-Rússia, prisioneiros na Ucrânia, em troca da vida dos reféns que mantém. No vídeo, dois prisioneiros são fuzilados. “Se meus homens não forem libertados em uma hora, mais dois homens vão morrer”, diz Bez no vídeo. Não se sabe se as execuções mostradas são reais.

Durante a entrevista, pouco depois da primeira pergunta, Bez se descontrolou. Os repórteres queriam saber por que Bez mantém reféns. Muitos dos inimigos são mortos no campo de batalha. Por que ter prisioneiros? Bez se irritou. Passou a gritar histericamente. “Eles são fascistas. Por que deveríamos ter alguma cerimônia? Eu vou enforcá-los em um poste na rua”. Tomou o gravador do jornalista russo e o atirou contra a parede. Tomou o bloquinho das mãos do jornalista britânico e começou a rasgar suas páginas: “Não pensem que vou hesitar em mandar fuzilar vocês dois” disse, por fim.

“A única razão de eles estarem aqui é por que eles são soldados do exército ucraniano”, disse Bez a Walker. “Aqueles que lutam em batalhões voluntários, nós os interrogamos e então fuzilamos em campo. Por que deveríamos demonstrar pena por eles?”.

Depois de revistados, os dois jornalistas foram expulsos da cidade. Estavam nervosos e com medo. Mesmo os homens de Bez pareciam aterrorizados com a situação. Segundo Walker, a maior parte dos homens que luta com Bez é bastante jovem. Eles foram para Gorlokva colocar-se a serviço de Bez já prontos para morrer. Numa guerra fratricida, aqueles homens correm o risco de morrer em campo vítimas de antigos amigos e parentes. Entre os  prisioneiros de Bez está um alto-oficial do Serviço Secreto Ucraniano. Seu cunhado lhe serve de carcereiro.
RC

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