Por que os manifestantes de Hong Kong protestam com guarda-chuvas
A população de Hong Kong foi às ruas protestar contra o governo central chinês. Em jogo, o temor de que as liberdades vividas pela ilha desapareçam sob o autoritarismo de Pequim
REDAÇÃO ÉPOCA
Não foi assim na última sexta-feira (26). Naquela data, um protesto iniciado diante da sede do governo dias antes cruzou a madrugada. No sábado (27) e domingo (28) a polícia da cidade reagiu. Respondeu com bombas de gás lacrimogêneo e gás pimenta. A ação dos policiais não intimidou quem foi às ruas. A violência policial atípica aumentou o número de manifestantes que, nesta segunda-feira (29), se espalharam por diferentes áreas do centro financeiro.
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Com os protestos tomando corpo, decidiram tomar as ruas de imediato. Fortalecidas, as manifestações engrossaram ao longo do final de semana e se espalharam pelas redes sociais sob as hashtags #OccupyCentral e #HKDemocracy. “Central” é como os moradores chamam a região central da cidade. O governo chinês respondeu bloqueando o Instagram no restante do país, tentando evitar que as notícias sobre os protestos se espalhassem . As fotos de manifestantes carregando guarda-chuvas para se proteger do gás pimenta se espalharam pelo mundo e deram nome aos protestos: a “revolução dos guarda-chuvas”. As imagens do vídeo abaixo mostram as ruas da cidade tomadas por manifestantes no domingo (28):
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Os moradores de Hong Kong protestam contra o temor de que a cidade – um território especial administrado pelo governo central chinês- perca as garantias democráticas de que ainda se vale. Miram as eleições de 2017. Em agosto, o governo chinês restringiu as regras para quem pode se candidatar: nas eleições, segundo as novas normas, os moradores de Hong Kong só poderão votar em uma lista de candidatos pré-aprovados pelo Partido Comunista Chinês.
A razão para essa descrença tem nome: Xi Jinping. Líder do Partido Comunista Chinês desde 2012, ele era o responsável pelas políticas relativas à Hong Kong antes de assumir o cargo. Segundo James Miles, o editor para a China da revista britânica The Economist, não deve tolerar uma derrota nesse território. “Trata-se da maior manifestação de rua que a China enfrenta desde os protestos da Praça da Paz Celestial em 1989”, disse Miles à CNN. Segundo a The Economist, Xi Jinping não quer nada que se assemelhe a uma democracia ocidental florescendo em Hong Kong.
Nesse meio tempo, legisladores pró-democracia no interior da cidade anunciaram, nesta segunda-feira (29) que preparam uma minuta legislativa pedindo pela saído do atual chefe-executivo da cidade, Cy Leung. Eles o responsabilizam pela escalada da violência policial vivida durante o final de semana.
As raízes do atual protesto remontam a 1997, quando Hong Kong foi devolvida à China depois de passar 150 anos sob domínio britânico. Nesse período, a cidade se tornou um importante polo financeiro asiático, e seus habitantes usufruíram de maior liberdade política que o restante da China. Ao assumir controle sobre o território, o governo chinês prometeu que seus habitantes poderiam escolher sua principal autoridade, o chefe-executivo, por meio de eleições diretas pela primeira vez em 2017. Segundo o site Vox, o novo plano apontado em agosto, de restringir os candidatos em quem os habitantes poderão votar, soou para muitos como uma quebra desse compromisso.
Em Hong Kong, fica a dúvida se essa é uma restrição pontual ou a primeira de futuras medidas para cercear as liberdades experimentadas na região. Segundo a The Economist, uma foto de um manifestante solitário, carregando um guarda-chuva entre nuvens de fumaça, circulou o mundo, ecoando a famosa imagem do estudante diante de tanques de guerra na Praça da Paz Celestial. Em Hong Kong, o massacre de 1989 em Pequim é relembrado em vigílias anuais, algo proibido no restante da China. Os atuais manifestantes erguem seus guarda-chuva para se proteger do gás dos policiais chineses. E para, quem sabe, garantir um futuro mais livre.
RC
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