A ligação entre um avião com R$ 116 mil e o governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel
O avião em que a PF encontrou R$ 116 mil pertence a Benedito de Oliveira, compadre e homem influente na campanha do governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel
DIEGO ESCOSTEGUY E MURILO RAMOS
Há três semanas, logo após o primeiro turno das eleições, a Polícia
Federal fez uma batida num avião em Brasília e descobriu R$ 116 mil, em
dinheiro vivo, com pessoas ligadas à campanha de Fernando Pimentel,
do PT, governador eleito de Minas Gerais. Pimentel disse, em nota, que
não poderia ser considerado responsável pela “conduta de fornecedores”.
Admitiu apenas que o empresário Benedito de Oliveira, um dos passageiros
do avião, fornecia material gráfico para sua campanha. A PF encontrou o
dinheiro com Benedito e Marcier Moreira, assessor de Pimentel na
campanha. Moreira ocupara cargos em dois ministérios dos governos Lula e Dilma.
Sob a suspeita de que se tratava de sobra de campanha, abriu-se
inquérito na PF para investigar a origem do dinheiro. Nenhum dos
investigados confessou. Desde então, Bené, como é conhecido no mundo
político, ou o mero “fornecedor”, como define a nota de Pimentel,
recusa-se, assim como o próprio Pimentel, a falar sobre o caso. O
silêncio persistente de ambos leva à indagação: o que eles têm a
esconder?
Muito, segundo entrevistas com pessoas próximas a ambos e documentos
obtidos com exclusividade por ÉPOCA. A reportagem de ÉPOCA levantou
evidências de que a participação de Bené no caso investigado pela PF é
extensa. Obteve provas também de que a ligação de Bené com Pimentel e a
campanha dele vai além da relação comercial entre cliente e fornecedor
sugerida na nota de Pimentel. Os dois são amigos há anos, apesar de Bené
já ter se envolvido em escândalos e ter sido acusado de desvio de
dinheiro público pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Bené ganhou
contratos em vários ministérios no governo Lula. Ele exerceu influência
decisiva na campanha de Pimentel ao governo de Minas – e até no
Ministério do Desenvolvimento e Comércio, comandado por Pimentel desde o
começo do governo Dilma. Pimentel se afastou do cargo apenas em
fevereiro, para concorrer ao governo de Minas Gerais.>> Sócio de empresário acusado de corrupção trabalhou na campanha de Fernando Pimentel
A ascensão de Pimentel coincide com a ascensão de Bené. Enquanto um subia na política, o outro subia nos negócios. Segundo pessoas próximas, Bené se aproximou do PT após o mensalão, em 2005. Por coincidência, aproximou-se por meio do mesmo homem que apresentara o operador Marcos Valério ao partido: o deputado Virgílio Guimarães, do PT de Minas. No segundo mandato de Lula, enquanto sua Gráfica Brasil e sua empresa de eventos ganhavam contratos milionários e, segundo o TCU, superfaturados, Bené acumulava influência no PT e no PP. Em 2009, aproximou-se de Pimentel, que coordenava a primeira campanha de Dilma. Bené alugou a casa, em Brasília, onde trabalhava a equipe de imprensa de Dilma. Pagava o aluguel em dinheiro vivo. Equipou-a com computadores. Assessores de Dilma logo passaram a produzir dossiês contra o PSDB. Na metade de 2010, quando o caso veio a público, Bené e Pimentel foram obrigados a se afastar da campanha.
>> PT conquista Minas pela 1ª vez em vitória histórica de Fernando Pimentel
Em 22 de novembro de 2010, logo após a vitória de Dilma, Bené comprou nos Estados Unidos, segundo comprovam documentos obtidos por ÉPOCA, o avião que foi apreendido pela PF nas -eleições deste ano. A estrutura do King Air, prefixo PR-PEG (iniciais dos filhos de Bené), foi comprada à vista, por US$ 735 mil, segundo nota fiscal emitida pelos vendedores americanos. “Ele precisava de um avião para transportar políticos e o que mais fosse necessário, discretamente”, diz um dos homens de confiança de Bené. A nota fiscal aponta o comprador como a Lumine Editora, empresa registrada em nome dos irmãos de Bené. O contrato de câmbio para efetuar o pagamento, a que ÉPOCA também teve acesso, foi assinado por Júlio César de Oliveira, irmão de Bené e diretor financeiro de uma das empresas dele. Hoje, o King Air está registrado na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em nome da Bridge Participações. Os donos da Bridge são desconhecidos. Documentos comerciais da empresa mostram que ela é controlada pelo próprio Bené.
Carolina deixou o ministério em dezembro de 2011. A Oli, em seguida, foi contratada pelo PT para prestar serviços de assessoria de imprensa. Duas salas da Oli, em Brasília, eram alugadas por Bené. ÉPOCA esteve no endereço informado pela Oli à Receita Federal, um pequeno prédio comercial no final da Asa Norte, e não achou a empresa. Três pessoas que trabalham no prédio disseram nunca ter visto a empresa nem reconheceram fotos de Carolina. O contador da Oli disse que ele registrara seu endereço comercial como o domicílio fiscal da Oli. “A Oli não tem funcionários”, afirmou. Assim como os demais personagens desta história, Carolina trabalhou na campanha de Pimentel.
ÉPOCA enviou uma série de perguntas a Pimentel sobre sua relação com Bené. Ele se negou a respondê-las objetivamente. Afirmou que as perguntas de ÉPOCA “partiam de premissas irreais e de fontes desqualificadas”. Disse ainda que “as inverdades expostas no questionário constituem crime da maior gravidade contra a honra do governador eleito de Minas Gerais e da jornalista Carolina Oliveira”. ÉPOCA perguntou então se Pimentel poderia responder de modo objetivo às questões. Sua assessoria informou que a “resposta é a nota”. Luiz Cézar Ribeiro confirmou ter sido sócio de Bené. Afirmou, no entanto, não manter contato com ele “há muito tempo”. Disse ainda que Bené não pediu a Pimentel que nomeasse seu irmão Humberto para ocupar a Secretaria de Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento. Bené não foi encontrado. Sua namorada, Juliana Sabino, não respondeu aos pedidos de entrevista.
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