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2 de novembro de 2014

Após superar câncer, casal do DF larga tudo para viajar o mundo

Quando ele recebeu o diagnóstico, ela raspou a cabeça para apoiá-lo.
Sem data para voltar, brasilienses viajam há três meses pela Europa.

Isabella Formiga Do G1 DF
Cíntia Magalhães e William Andery com a cabeça raspada, durante tratamento dele contra o câncer  (Foto: Gustavo Senise/Reprodução)Cíntia Magalhães e William Andery com a cabeça raspada, durante tratamento dele contra o câncer (Foto: Gustavo Senise/Arquivo Pessoal)
De um apartamento alugado em Lisboa, em Portugal, o brasiliense William Andery, de 27 anos, se diz “parcialmente grato” ao diagnóstico de câncer que recebeu há três anos. A doença o encorajou a mudar o estilo de vida atribulado que levava e a realizar um sonho antigo: viajar pelo mundo sem data para voltar. A namorada, Cíntia Magalhães, de 30 anos, que raspou o próprio cabelo quando os fios de Andery começaram a cair, o acompanha na jornada. O jovem está curado da doença.
“Desde sempre a gente quer viajar, conhecer o mundo, sair por aí. Mas a gente sabia que não era o momento, estávamos estudando e tínhamos outras prioridades”, diz Cíntia. “Mas depois da última sessão de quimioterapia do William, as coisas andavam tão estressantes de médico, exames, dor, que ele comentou comigo: ‘Acho que queria fugir disso tudo’. E aí resolvemos: ‘Então vamos. Vamos fugir para o mundo.”
Cíntia Magalhães e William Andery em Barcelona (Foto: Cíntia Magalhães/Reprodução)Cíntia Magalhães e William Andery em Barcelona
(Foto: Cíntia Magalhães/Arquivo Pessoal)
Cíntia descreve o momento decisivo em um blog de viagem: "Escrevi uma carta, mostrei para os meus pais e minha irmã, depois para a minha chefe, pedi demissão, Will vendeu o carro, pediu autorização aos médicos, arrumamos as malas e aqui estamos [...]. E como nos indicou o oncologista do Will quando ele lhe pediu a bênção para cair no mundo: Vá com Deus! Life is short, play hard!" (“A vida é curta, vai fundo”, em tradução livre).
Há mais de dois meses viajando, o casal já passou por Portugal, Marrocos, Espanha, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Alemanha, República Tcheca, Eslováquia, Áustria, Hungria, Turquia, Grécia e Itália. Os próximos destinos são Índia e Nepal.
A doença
Andery cursava Gestão Ambiental na Universidade de Brasília (UnB) em 2011, quando foi diagnosticado com leucemia linfoide aguda (LLA), um câncer nas células brancas do sangue. “É quase como ganhar na loteria. Você acha que nunca vai acontecer com você", diz. “Mas desde o começo, a gente sempre acreditou que daria tudo certo. A gente sempre falou: ‘Ah, o tratamento é chato, mas vai passar, como tudo passa.”
Os primeiros seis meses foram os mais difíceis por conta das sessões de quimioterapia, que eram muito fortes. “O médico avisou que, por conta do tratamento, o cabelo dele começaria a cair”, conta Cíntia. “Foi aí que eu falei: ‘Se o seu cabelo cair, então eu raspo o meu também.”
O estudante William Andery tirou fotos ao longo do tratamento contra a leucemia (Foto: William Andery/Reprodução)O estudante William Andery tirou fotos ao longo do tratamento
contra a leucemia (Foto: William Andery/Arquivo pessoal)
O casal em entrevista ao G1 pela internet (Foto: Skype/Reprodução)O casal em entrevista ao G1 pela internet (Foto: Reprodução)
A queda começou logo após as primeiras sessões. “Aquilo se torna incômodo. Cai no lençol, na toalha, em cima da comida. Foi aí que dissemos: Chega. Vamos raspar. E raspamos [o cabelo de Andery] no próprio hospital”, conta a namorada.
“No dia seguinte raspamos o da Cíntia”, lembra Andery. “A gente começou também cortando de qualquer jeito, raspamos apenas um lado da cabeça e deixamos a outra parte do cabelo comprido, nos divertimos. Nessa hora, o médico entrou no quarto, olhou assim pra gente espantado e disse: ‘O que vocês estão fazendo? Quanto mais eu rezo, mais careca me aparece!"
Durante os dois anos e meio de tratamento, Andery relatou sua experiência com a leucemia em um blog. Ele conta que é procurado com frequência por outros jovens que descobrem ter a doença e até por profissionais.
Apesar de curado, a viagem do casal é feita de forma lenta, porque o tratamento contra o câncer deixou sequelas – uma necrose na ponta do fêmur, que impede Andery de fazer atividades físicas por tempo prolongado.
"A gente sempre tira dias para ficar praticamente parados dentro do hotel. A própria viagem é o atrativo. A gente não fica na função turista, de acordar cedo e ver dez museus de uma vez. A gente vai ao mercado, para a padaria, anda na praça, faz piqueniques. Tudo bem tranquilo”, diz Cíntia.
Para Andery, o ritmo lento da viagem tem o ensinado a ver a vida com mais serenidade. “O câncer foi um divisor de águas. A gente vinha numa rotina de vida de querer trabalhar, juntar dinheiro, numa rotina que, não sei, estava errada", diz.
"O câncer veio e me fez parar e pensar que a vida não é só isso. Eu não imaginava que ia estar fazendo essa viagem agora. E foi tudo, digamos, graças ao câncer, que disse ‘vai viver, a vida é agora, não é amanhã.”
William Andery e Cíntia Magalhães, no Boom Festival, em Portugal (Foto: Cíntia Magalhães/Reprodução)William Andery e Cíntia Magalhães, no Boom Festival, em Portugal (Foto: Cíntia Magalhães/Arquivo Pessoal)

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