O Museu do Amanhã mostrará como será o mundo 50 anos à frente
O primeiro museu de ciência atualizável do país será inaugurado ano que vem, no Rio de Janeiro
MARCELO BORTOLOTI
Museus de ciências e tecnologia
cumprem um papel educativo fundamental ao tentar oferecer um vislumbre
do futuro. Ao fazer isso, apresentam alertas sobre grandes problemas,
despertam a curiosidade para questões intrigantes e informam o visitante
sobre as possibilidades excitantes que a humanidade mal começa a
explorar. Ao fazer isso, correm também risco de envelhecer mal, por
causa da rapidez com que mudam nossas concepções de futuro. Só que isso
é passado. O presente pertence aos museus interativos, multimídia, com
acervo digital. Eles podem ser atualizados, como qualquer software ou
aplicativo. Faz parte dessa família, no Brasil, o Museu da Língua
Portuguesa, em São Paulo. O primeiro museu desse tipo a tratar de ciência
e tecnologia no país será o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, com
inauguração prevista para até junho de 2015. Ele fará parte de um
restrito circuito de museus ultratecnológicos dedicados à ciência e à
tecnologia, como a Academia de Ciências da Califórnia, nos Estados
Unidos, o Kolkata, na Índia, e o Museu Nacional de Ciência e Tecnologia
de Taiwan.
>> Como será o Brasil em 2030O Museu do Amanhã será instalado num prédio de visual surpreendente, desenhado pelo espanhol Santiago Calatrava, um dos arquitetos mais badalados do mundo. É uma iniciativa da prefeitura do Rio e da Fundação Roberto Marinho, ligada ao Grupo Globo, que publica ÉPOCA. O edifício de formato alongado e partes metálicas móveis começou a ser erguido em 2011, numa plataforma que se projeta para o mar na Baía de Guanabara. Seu conteúdo inclui apenas instalações interativas e nenhum objeto. Idealizado como parte do projeto de renovação da área portuária do Rio, o museu se propõe a refletir sobre o mundo 50 anos à frente. Isso não quer dizer 2065. Quer dizer sempre 50 anos à frente do momento da visita. Será o primeiro museu no Brasil com acervo atualizado em tempo real. Por isso, ele tem acordos com 80 entidades científicas brasileiras e internacionais, como o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Elas fornecerão dados atualizados para calibrar o acervo. A atualização poderá ser diária.
Um exemplo simples das dificuldades de refletir sobre o futuro é o aquecimento global. Acredita-se hoje, com 95% de segurança, que a temperatura média do planeta subirá nas próximas décadas. Por esse mesmo modelo, porém, há 2% de chance de a temperatura média cair. Esse efeito desencadearia o início de uma nova Era do Gelo. O futuro é de aquecimento ou esfriamento? Seja qual for, ele será mostrado no museu. “A única certeza sobre o futuro é que o inesperado acontecerá. Era a grande dificuldade conceitual do Museu do Amanhã”, diz o curador Luiz Alberto Oliveira, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas.
>> Como evolui nosso poder de imaginar
Duas ideias foram centrais para a criação do museu. A primeira é o imponderável – a certeza de que o futuro não permite certezas e sempre nos surpreenderá. A outra é aceitar que estamos no período antropoceno, termo criado pelo químico holandês Paul Crutzen. Ele designa uma nova era geológica, em que a humanidade é o fator novo, ao lado das forças naturais que sempre estiveram presentes na história do planeta. “Os efeitos de nossa presença se tornaram uma força geológica”, diz Oliveira. “Daqui em diante, viveremos num planeta profundamente transformado por nossa atuação.”Além de abrangentes, as transformações provocadas pelo ser humano se mostram extremamente duradouras. As bombas atômicas detonadas no planeta num período de cinco décadas, a partir dos anos 1940, espalharam pelo globo partículas de plutônio que podem levar 24 mil anos para desaparecer. O consumo de petróleo, a extinção de espécies e as emissões de gases provocam efeitos que serão detectáveis no futuro longínquo.
>> As profissões condenadas a desaparecer – e as que resistirão às novas tecnologias
O museu aproveitará uma outra vantagem das instalações multimídias e interativas. Ele atenderá à curiosidade dos adultos já bem informados sobre os assuntos e, ao mesmo tempo, será acessível para crianças de 8 anos de idade que entrem em contato com os temas pela primeira vez. Num mesmo ponto da exposição, cada interessado poderá mergulhar com a profundidade que desejar nos dados disponíveis. O objetivo do percurso é mostrar, com informação científica de alta qualidade, que o futuro não é necessariamente sombrio nem róseo. Ele depende fundamentalmente das decisões que tomamos hoje.
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