O que leva alguém a quebrar o pacto de fidelidade e ser infiel?
Por Raquel Paulino , especial para o iG São Paulo
Assumida por quase metade dos homens e das mulheres das grandes capitais brasileiras, a infidelidade pode ser motivada por falta de diálogo, vaidade e fases do relacionamento
Na nossa cultura, assumir um relacionamento significa abraçar a monogamia. Ter um caso extra-conjugal não é uma atitude aceita nem socialmente nem pelo parceiro enganado, e a traição figura como o principal motivo dos divórcios no Brasil.
Mesmo assim, uma parcela significativa de comprometidos e comprometidas parece disposta a correr o risco de colocar o casamento ou namoro a perder e dá suas “puladas de cerca” – em bom português, são pessoas que traem suas mulheres ou maridos sem aparentemente pensar nas consequências.
De acordo com o Mosaico Brasil, estudo referência em sexualidade coordenado pela psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, 44,9% dos homens e 40,5% das mulheres assumem trair ou já ter traído. Foram ouvidas 8200 pessoas em dez capitais brasileiras (Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). Mas o que as leva a agir desta maneira?
++MAIS: Veja a seguir os principais sinais de que o seu parceiro pode estar tendo um caso:
Não lhe dá mais atenção. Por mais que você tente puxar conversa, ele parece sempre distante e desinteressado pelo que acontece na sua vida. Foto: Thinkstock/Getty Images
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Fases do relacionamento
Outra pesquisa, esta feita pelo site de relacionamento extraconjugal AshleyMadison.com com 7000 usuários (homens e mulheres), levantou os prazeres que a traição gera. Entre as mulheres, a motivação maior é poder negar sexo ao marido por já estarem satisfeitas pelo amante (35% delas responderam isso). Já entre os homens, imaginar a mulher vendo a amante fazendo tudo que ela não faz e dando prazer ao marido é o que fortifica a vontade de trair (essa foi a resposta de 41% deles).
“Sou casado há 11 anos. De seis anos para cá, já tive muitas amantes de casos longos. Com uma, quatro anos. Com outra, três anos, simultaneamente. Foi muito bom, pois realizei muitas fantasias e vontades. Além disso, as duas eram casadas e me falavam suas carências, as quais supria com muito prazer”, conta Marcos (o nome foi alterado para manter a privacidade do usuário do site).
Cada pessoa tem suas razões para trair, mas um ponto em comum sempre há, segundo a psicoterapeuta e consultora comportamental Olga Tessari, especialista em infidelidade.
“A falta de diálogo saudável e constante em que se possam expressar as insatisfações com a relação para que o outro entenda e melhore seu comportamento”.
Quanto aos motivos, ela lista rotina, mágoas, ressentimentos, problemas mal resolvidos entre o casal, falta de atenção, desinteresse no parceiro, medo de ou dificuldade em terminar a relação e até o estresse do dia a dia.
“O estressado se torna agressivo, distante e pouco receptivo. O outro, então, pode se interessar por alguém ‘lá fora’ que lhe dê mais atenção e carinho”, diz.
“Nos dois primeiros anos, a vivência do ‘luto da paixão’, mais comum entre os homens, pode levar à traição. Nos casamentos com cerca de dez anos, se o desejo está abalado, os relacionamentos extraconjugais são vistos como tentativas de estabilizar ou sobreviver ao casamento. Ou de escapar dele”, exemplifica a psicóloga e terapeuta sexual Claudia Graichen Guimarães, membro da Sociedade Brasileira de Sexualidade. Seja como for, Olga faz questão de ressaltar: “Se há traição, a responsabilidade é de ambos, não de um só”.
Casais felizes traem?
Um namoro ou casamento realmente feliz e satisfatório é imune a traições, garante Olga. “Elas só ocorrem quando um dos parceiros não se sente bem com a relação e não encontra espaço ou maneiras para resolver isso”, afirma a psicoterapeuta.
Mas, para Claudia, um pezinho atrás não faz mal nenhum. “A infidelidade não é uma questão de amar ou não amar, e o mito de que ‘quem ama é fiel’ precisa ser desconstruído, assim como o mito da confiança absoluta”, orienta. E continua: “Em um relacionamento, os dois estão vulneráveis e podem vivenciar tentações. Cabe a cada um escolher ser fiel ou sucumbir”.
Além do sexual
Qualquer quebra de confiança é considerada uma traição em um relacionamento estável. Apesar de a infidelidade física ser considerada a mais grave, a financeira – quando um empresta dinheiro do casal a amigos sem avisar ao outro, gasta economias em algo apenas para si ou mente sobre seus ganhos – é a segunda maior razão dos divórcios brasileiros.
Também pesa em uma relação, de acordo com Claudia, a traição afetiva em que não há efetivamente um contato sexual com outra pessoa. “São situações em que se fecham portas para a comunicação”, explica.
Entre elas, a psicóloga e terapeuta sexual destaca a frequência em salas de bate-papo na internet (e os consequentes “namoros virtuais” que surjam nelas), a busca por satisfazer as necessidades emocionais com amigos fora do casamento, o hábito de ficar horas em frente à TV para evitar o diálogo e até passar mais horas no trabalho apenas para evitar voltar para casa. “A relação conjugal é marcada por aproximações e afastamentos. Quando se permite criar uma distância, uma das partes pode canalizar a energia para fora do relacionamento. E, no fim das contas, ser fiel significa permanecer disponível para o parceiro”, finaliza.
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