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31 de julho de 2014

Alerta Vermelho: boto da Amazônia não servirá mais como isca para bagre

HAROLDO CASTRO, DE MANAUS (TEXTO E FOTOS)
O boto-vermelho – também chamado de cor-de-rosa por aqueles que não vivem na Amazônia – possui grande destreza de movimentos e sua nadadeira peitoral (à mostra) demostra ampla flexibilidade. (Foto: Haroldo Castro/ Época)

O boto pode chegar a 2,5 metros de comprimento e a pesar 180 quilos. Seu peito é, de fato, cor-de-rosa; mas dentro da água cor-de-conhaque do rio Negro ele pode parecer avermelhado (Foto: Haroldo Castro/ Época)
Em 20 de dezembro de 2013, VIAJOLOGIA publicou uma reportagem sob o título “Boto da Amazônia encanta, mas se torna isca para pescaria ilegal”. Na matéria relatamos que o boto-vermelho (também chamado de cor-de-rosa) estava – e ainda está – sendo pescado ilegalmente na Amazônia. O animal (Inia geoffrensis) é capturado com arpões e redes, assassinado de forma brutal com golpes na cabeça e seu corpo é fatiado para servir como isca na pesca de um bagre carniceiro, a piracatinga (do tupi guarani, pirá + catinga, peixe fedido).
A piracatinga (Calophysus macropterus), antes comercializada somente na região amazônica, está sendo vendida hoje em supermercados de outras capitais brasileiras sob o nome ingênuo de “douradinha”. Com outras designações locais, a piracatinga também é exportada ilegalmente para a Colômbia. Os frigoríficos sabem que a pesca da piracatinga está associada à matança de botos, mas fazem vista grossa frente ao lucro das vendas. “Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o Inpa, confirmaram que a espécie vinha perdendo anualmente cerca de 10% de seus indivíduos nas áreas estudadas”, afirma o conservacionista Reinaldo Lourival. “Esta é uma taxa maior do que a capacidade reprodutiva da espécie, podendo levar o boto à extinção”.
Várias organizações de proteção ambiental, chocadas com o massacre de um animal protegido por lei desde 1987, resolveram atuar. A Associação dos Amigos do Peixe-boi (Ampa), criada há 14 anos para promover a proteção dos mamíferos aquáticos da Amazônia, passou a liderar uma campanha de comunicação e nos últimos seis meses angariou material para comprovar as denúncias. O vídeo gravado pela Ampa mostrando a matança dos botos-vermelhos foi ao ar no programa Fantástico da Rede Globo no domingo 20 de julho.

Durante pesca noturna, um boto-vermelho é aprisionado em uma rede (Foto: Ampa)

Um boto-vermelho fêmea é cortado em fatias, cujos pedaços servirão para a pesca da piracatinga. Esta fêmea estava grávida e um filhote é encontrado no corpo da mãe.  (Foto: Ampa)
Dois dias antes da reportagem do Fantástico, em 18 de julho, o Diário Oficial da União publicou às pressas a medida proibindo a pesca da piracatinga em todo o território nacional por cinco anos. “O objetivo é reduzir a matança de botos e jacarés, usados como isca para atrair cardumes de piracatinga”, diz o documento, sublinhando o efeito negativo da pesca predatória. A moratória ampara a pesca de subsistência. O pescador poderá capturar até cinco quilos de piracatinga, por dia, para consumo.
A Ampa considera a proibição como uma pequena vitória, mas a batalha não está ganha. A medida só entrará em vigor em 1º de janeiro de 2015 e durante estes próximos cinco meses a matança dos botos vai continuar. “Se a proibição começar apenas em 2015, estaremos aceitando a morte de milhares de botos durante os próximos meses”, afirma Jone César Silva, diretor-executivo da Ampa. “A moratória deve começar já!”
No fim-de-semana passado, para mobilizar o público amazonense, a Ampa lançou na praia da Ponta Negra, em Manaus, AM, o maior boto-rosa do mundo. O boto de plástico, de 12 metros de comprimento, faz parte da campanha Alerta Vermelho que pretende conscientizar governo e população para que a pesca da piracatinga não continue até 2015.
Outra medida, esta abrangendo o público nacional e até internacional, está arrecadando assinaturas para uma petição que será entregue brevemente em Brasília. A petição  no site Alerta Vermelho solicita que as autoridades reavaliem a data do início da moratória e evite que milhares de botos ainda sejam mortos em 2014.  

“O maior boto do mundo” é um inflável de 12 metros que foi levado à praia da Ponta Negra, em Manaus, neste último fim-de-semana. (Foto: Ampa)

O boto-rosa inflável faz parte da campanha Alerta Vermelho da Ampa.  (Foto: Ampa)
Até a publicação desse post, a Ampa conseguiu mais de 35 mil assinaturas para sua petição pedindo a antecipação da data da moratória. O boto-rosa inflável sairá em breve da Amazônia para visitar São Paulo e Rio de Janeiro. O boto terminará sua jornada em Brasília, com a entrega da petição às autoridades.

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