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20 de setembro de 2014

Pablo Escobar: vida e morte de um traficante

Uma série de TV sobre o colombiano mostra um assassino que aterrorizou seu país – e foi parar na lista de bilionários da Forbes

MARINA FINCO E IVAN MARTINS
Pablo Esobar (Foto: Divulgação)
O nome de Pablo Escobar, um dos narcotraficantes mais famosos do mundo, voltou a ser notícia, 21 anos depois de sua morte. Desta vez, Don Pablo, como era conhecido na Colômbia, não é o responsável por uma cruzada quase inacreditável de crimes, mas protagonista de uma série de televisão. Na segunda-feira, dia 15, estreou Pablo Escobar: o senhor do tráfico, no canal a cabo +Globosat. Produzida pela empresa colombiana Caracol TV, a série terá 74 episódios, exibidos de segunda a sexta-feira. Ela narra a vida de Escobar desde sua infância, na cidade de Rionegro, até sua morte, em 1993, depois de uma perseguição policial pelos telhados de um bairro de classe média na cidade de Medellín, sede de seu império criminoso.
Pablo Escobar (Foto: AFP)
“O narcotráfico já foi tema de diversas produções na Colômbia, mas essa é a primeira vez em que os personagens têm nome próprio”, diz Juana Uribe, criadora da série ao lado de Camilo Cano. Os traficantes e suas vítimas são retratados com nomes verdadeiros e histórias fiéis. Entre elas, a do tio de Juana, Luis Carlos Galán, candidato presidencial cuja campanha se baseava na luta contra as drogas. Ele foi morto a mando de Escobar em 1989. Além de Galán, outras duas vítimas de Escobar estão ligadas ao núcleo de produção da trama. A mãe de Juana, Maruja Pachón, passou sete meses sequestrada em 1990 – história contada no livro Notícias de um sequestro, de Gabriel García Márquez. O pai de Cano, Guillermo, editor do diário El Espectador, morreu em 1986, num atentado à bomba à sede do jornal. “Foi libertador poder finalmente falar sobre esses traumas”, diz Juana.
Baseada no livro La parabola de Pablo, do jornalista Alonso Salazar, essa é a maior produção televisiva feita na Colômbia. Na ânsia de ser fiel à realidade, foi escolhido um ator semelhante fisicamente a Escobar, André Parra. Além dele, outros 1.300 atores participaram da produção. Foram usadas 450 locações, entre Miami, Bogotá e Medellín. Em 2012, a estreia colombiana em canal aberto bateu recordes de audiência, com 11 milhões de telespectadores. Mesmo assim, sofreu críticas por fazer  apologia à figura de Escobar. Nos anos 1980, no auge de sua atuação, ele aterrorizou o país e conseguiu controlar 80% do tráfico internacional de cocaína. Chegou a figurar na lista dos dez homens mais ricos do mundo da revista Forbes, embora fosse um facínora sanguinário.
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Escobar, como tantos bandidos violentos antes dele, cultivou a fama de Robin Hood entre os moradores de Medellín. “Ele parecia generoso para os miseráveis”, diz Fernando Torres-
Ludoño, professor de história de América Latina da PUC-SP. “Financiou quadras de futebol e construiu uma imagem de homem de família.” Ao lado do carisma, florescia a personalidade violenta de Escobar. Estima-se que foi responsável por 4 mil mortes (alguma espécie de recorde para um criminoso comum). “Com o tempo, acabou se perdendo”, diz Torres-
Ludoño. “Morreu sozinho, descalço, fugindo.” Tinha 44 anos. A série tenta equilibrar seus dois lados. “Mostramos as consequências de seus crimes, não apenas para o povo e para o país, mas para o próprio Pablo, na esperança de que nunca mais aconteça”, diz Juana.

DINHEIRO SUJO O ator Parra como Escobar, em  cena da série. O traficante matou 4 mil pessoas e pôs a Colômbia de joelhos (Foto: Divulgação)
Escobar segue uma tendência mundial de retratar anti-heróis. Os personagens principais das séries mais vistas deixaram de ser gente de bem para encarnar mentes do mal. A tendência começou em 1993, com o drama policial americano NYPD blue, em que o protagonista Andy Sipowicz era alcoólatra, machista e preconceituoso. A partir daí, a televisão trouxe nomes como o mafioso Tony Soprano, o detetive e assassino em série Dexter e culminou em Breaking bad, com Walter White, o professor de química que se torna assassino e produtor de metanfetamina. O último episódio de Breaking bad foi ao ar em setembro do ano passado e superou os 10 milhões de espectadores nos EUA.
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“Hoje, há mais flexibilidade para explorar o comportamento desses personagens”, afirma Maureen Ryan, crítica de televisão do site Huffington Post. “O comportamento transgressor é atraente, principalmente se as ações do personagem são, de alguma forma, justificáveis. Mas os grandes shows nunca deixam esquecer que o personagem principal não é alguém que você queira imitar. Questionam nossa simpatia por eles.” Como Pablo Escobar – que matou, sequestrou e transformou a vida de uma geração de colombianos num inferno – será percebido pelos brasileiros?

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