Crise na Petrobras esquenta debate da TV Globo
Oposição acusa Dilma Rousseff de ter mentido sobre demissão de Paulo Roberto Costa; presidente diz que seu governo foi o que mais combateu corrupção
ALBERTO BOMBIG

O último e decisivo debate antes do primeiro turno, realizado pela TV
Globo, teve como marca o confronto direto entre os três primeiros
colocados nas mais recentes pesquisas de intenção de voto. O resultado
foi um embate de tirar o fôlego do eleitor, que não pôde piscar os olhos
durante quase duas horas. A investigação em curso, conduzida pela
Polícia Federal e pelo Ministério Público, envolvendo a Petrobras esteve
no centro das discussões mais tensas. No geral, a presidente Dilma
Rousseff, líder nas pesquisas de intenção de voto, foi o alvo
preferencial, mas Marina Silva e Aécio Neves também protagonizaram
momentos de tensão.
>> Datafolha: Dilma tem 40%, Marina, 24%, e Aécio, 21%>> Ibope: Dilma tem 40%, Marina, 24%, e Aécio, 19%
Marina Silva e Aécio Neves, que disputam palmo a palmo o voto antipetista, questionaram a presidente Dilma Rousseff sobre a demissão do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ele esteve preso em decorrência da Operação Lava Jato e foi libertado após ter feito delação premiada. Tanto Marina quanto Aécio questionaram declarações anteriores da presidente de que foi ela quem demitiu Costa. Os dois candidatos de oposição ao atual governo afirmaram e mostraram evidências de que Dilma não foi responsável pela saída dele da estatal. Conforme mostrou o jornal O Globo, ata da reunião que escolheu o sucessor de Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento traz, no entanto, uma versão diferente. No documento, os representantes do governo no Conselho de Administração da Petrobras não só registram que foi o diretor quem renunciou ao cargo como ainda fazem questão de elogiar a atuação de Costa na cúpula da estatal. Marina se referiu ao episódio no debate como "demissão premiada".
O encontro entre os candidatos (de partidos com representação na Câmara dos Deputados: Aécio Neves-PSDB, Dilma Rousseff-PT, Eduardo Jorge-PV, Levy Fidelix-PRTB, Luciana Genro- PSOL, Marina Silva-PSB e Pastor Everaldo-PSC) começou às 22h52 desta quinta-feira (2), com mediação do jornalista William Bonner. Já no primeiro bloco, o primeiro embate direto entre os três principais candidatos. Aécio relembrou o passado petista de Marina Silva (ela entrou no PT em 1985; saiu em 2009) e quis saber o posicionamento dela em relação ao mensalão, escândalo de 2005. "Onde estava a nova política?", questionou ele. "Vossa excelência também está em um partido que praticou o mensalão. Pessoas boas estão em todos os partidos. Eu saí do PT para manter as minhas convicções", respondeu a candidata do PSB, fazendo referência ao escândalo que ficou conhecido como "mensalão mineiro".
No segundo bloco, dois confrontos diretos entre os líderes. Com temas definidos previamente, Dilma questionou Aécio sobre o papel das estatais, e o tucano evocou a atual investigação em curso na Petrobras, a maior estatal brasileira, para criticar a gestão da presidente. "O povo brasileiro está indignado (...) Vocês entregaram a nossa maior empresa a uma quadrilha", disse ele. "Acho estranho que o senhor trate com tanta leveza a questão das privatizações (das estatais). Foi no governo do seu partido que um alto funcionário disse que estavam tratando as privatizações com grande irresponsabilidade", respondeu Dilma. Logo em seguida, Marina Silva questionou Dilma sobre o papel do Banco Central, tema explorado pela candidata do PT para atacar a adversária. Marina lembrou que, na campanha de 2010, Dilma defendeu a autonomia do BC no embate, posição diferente da que a presidente defende neste ano. "Qual é a Dilma que está falando agora?" As duas, então, adentram uma discussão semântica, com Dilma na defesa, alegando que autonomia é diferente de independência. Para o eleitor, uma controvérsia pouco relevante. O mais importante foi a expressão corporal, com as duas adversárias se encarando fixamente e elevando o tom da voz. Marinou replicou de dedo em riste, e Dilma não gostou. Minutos depois, o clima iria esquentar ainda mais entre elas.
Outro embate entre os líderes das pesquisas ocorreu no terceiro bloco, quando Dilma e Aécio discutiram o tema habitação. A presidente quis saber a posição do tucano sobre o programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal. "Eu defendo bons programas, que serão mantidos, como o Bolsa Família. Mas serão aprimorados. O Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, vai contemplar os estratos que ainda não foram contemplados, os que recebem três salários mínimos. Sem achar que descobriu a roda", respondeu Aécio. "Um programa de 14 milhões de famílias não tem nada a ver com um programa extremamente fatiado até 10 milhões. O Minha Casa, Minha Vida, que talvez você não consiga dar continuidade porque não conhece, contempla quem recebe até 1 salário mínimo", afirmou Dilma.
O momento mais tenso desse bloco aconteceu em seguida. Dilma e Marina, cara a cara. O tema Petrobras e o nome Paulo Roberto Costa voltaram ao centro do debate. A candidata do PSB disse que na atual gestão a corrupção foi varrida para debaixo do tapete e que o ex-diretor da estatal foi beneficiado por uma "demissão premida". Dilma contra-atacou: "O seu diretor, nomeado por você, de fiscalização do Ibama (quando Marina era ministra do Meio Ambiente no governo Lula), foi afastado pelo meu governo por desvio de recursos. E eu não saí por aí dizendo que você sabia da corrupção. Sejamos honestas", afirmou Dilma. Mesmo com o tempo esgotado, Marina continuou rebatendo Dilma.
Dilma e Aécio, numa evidência clara de que petistas e tucanos escolherem a antiga polarização entre os dois partidos como estratégia, voltaram a debater diretamente no quarto e penúltimo bloco. Apesar de Marina Silva ser a mais identificada com o tema Meio Ambiente, Dilma escolheu Aécio para sua pergunta sobre mudanças climáticas. O tucano aproveitou a deixa para criticar o governo: "A senhora está na contramão da sustentabilidade ao incentivar o uso dos combustíveis fósseis. Precisamos mudar a nossa matriz, o que seu governo não fez. Temos um potencial extraordinário de energia eólica, de geração de energia através da biomassa", disse. "Eu sei que o senhor não tem familiaridade com essa questão do cadastro ambiental rural, ele está em andamento. Não depende de regulamentação. 79% da matriz energética do Brasil é correta e sustentável", rebateu Dilma.
Houve também embates entre os chamados "candidatos nanicos". Nesse quesito, temas relativos aos costumes preveleceram. Em suas considerações finais, os candidatos procuraram mesclar um clima de otimismo com críticas aos adversários.
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