Política de boteco, o aplicativo que incentiva o debate na mesa de bar
Aplicativo explica ao usuário as propostas polêmicas dos políticos
GRAZIELE OLIVEIRA

Mesa de bar é o melhor lugar para conversar sobre política. Relaxados,
embalados por petisquinho e bebidinha, os debatedores ficam no ponto
para resolver os grandes problemas da humanidade e defender e atacar os
políticos e suas ideias (ou a falta delas). O debate costuma sofrer um
tanto por desinformação. Se o cidadão-botequeiro pudesse obter
informações precisas sobre as propostas dos políticos, teríamos
conversas muito melhores em mesas de bar. A Webcitizen, consultoria de
comunicação e pesquisas digitais, quer dar sua contribuição. Criou o
aplicativo Política de Boteco, disponível desde o fim de agosto para os
sistemas iOS, da Apple, e Android, do Google.
Os criadores querem aproveitar o período de campanha eleitoral para
convidar os eleitores, principalmente os jovens, a refletir sobre os
assuntos de interesse da sociedade em qualquer ambiente, inclusive o
boteco. O aplicativo apresenta propostas do político, avalia quanto ele
foi atuante no mandato mais recente, discute a coerência de seus
projetos e mostra como foi a aceitação ou rejeição da ideia. Depois de
baixá-lo e se cadastrar, o usuário passa a receber notificações de
projetos de deputados e senadores do Congresso Nacional.>> Você já escolheu o seu candidato?
A linguagem é simples e, num parágrafo de bom resumo, fica fácil entender os projetos de lei, mesmo os mais longos. Se o cidadão-botequeiro quiser mais detalhes, há um link para a origem da informação. É possível compartilhar e comentar os temas, além de votar a favor ou contra a proposta. Em uma semana, pouco mais de 3 mil pessoas baixaram a novidade.
A ideia da Webcitizen é manter no Política de Boteco até 20 projetos e atualizar a lista semanalmente. Na primeira semana de setembro, estavam lá projetos de grande repercussão: o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o fim do salário dos vereadores de municípios com menos de 50 mil habitantes, a transformação em crime da divulgação de imagens íntimas de mulheres sem seu consentimento (prevista pela Lei Maria da Penha), a redução da maioridade penal, a criação do Passe Livre Estudantil em todo o território nacional e a proibição da venda de armas no Brasil a cidadãos. Também estarão no aplicativo propostas de candidatos da atual eleição, incluindo os presidenciáveis Dilma Rousseff, Aécio Neves e Marina Silva. É bom para saber como o candidato pensava, o que passou a pensar, o que andou e o que ficou parado.
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A Webcitizen tem outro filhote, o site VoteLab. O objetivo do novo serviço é ajudar o eleitor a conhecer melhor seu candidato. Em fase experimental, funcionará inicialmente nos Estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, com 5 mil candidatos a deputado federal e estadual. O candidato que quiser participar responderá, on-line, a 20 perguntas sobre temas de interesse social. O usuário fará o mesmo. A função do site é cruzar esses perfis e construir um mapa com os cinco candidatos mais próximos das ideias do usuário. Entre os temas estão a obrigatoriedade do ensino religioso em escolas públicas e privadas, a exploração de animais em eventos, circos e rodeios e a legalização da maconha.
Tanto o Política de Boteco quanto o VoteLab são extensões do site Vote na Web. Trata-se de uma página de internet em que os projetos de lei no Congresso Nacional são apresentados de forma simples ao cidadão. Nestes quatro anos, o site recebeu mais de 150 mil usuários, 5.600 projetos e 4,4 milhões de votos. Todos os parlamentares atuais estão no Vote na Web, tenham ou não apresentado algum projeto.

Como a Webcitizen ganha dinheiro com essas iniciativas? Usando como ferramentas de marketing. A missão da empresa é ajudar as companhias a entender melhor a cabeça do consumidor. Não é tão diferente de um político que tenta “vender” suas ideias ao eleitor. “Os serviços como o Política de Boteco e o Vote na Web são um laboratório para nós”, diz Barreto. “Testamos algoritmos e hipóteses matemáticas nesses projetos.” É uma vitrine do que a Webcitizen se propõe a fazer. Após entender o comportamento do cidadão-botequeiro, fica mais fácil construir ambientes digitais atraentes e coletar informações do comportamento dos usuários. “Eles precisavam investir num projeto autoral para mostrar do que se tratava a empresa e o que eles estavam criando”, diz Mariana Castro, autora do livro Empreendedorismo criativo.
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Agora, a Webcitizen fez parceria com o matemático Davi Ortega, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos. Desenvolvem software juntos, para tentar refinar a coleta de dados sobre o comportamento do brasileiro. “Passaremos da esfera da quantidade para a da qualidade dos dados”, diz Barreto. Ganham os empreendedores da Webcitizen, que exibem seus talentos. Ganha o cliente deles, que conta com um serviço melhor. Ganha o cidadão, que conta com uma ferramenta simples e criativa para conhecer os políticos e cobrá-los melhor. E ganha o debate de mesa de boteco, claro – agora, com um aliado tecnológico para o chope gelado.
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