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2 de outubro de 2014

Política de boteco, o aplicativo que incentiva o debate na mesa de bar

Aplicativo explica ao usuário as propostas polêmicas dos políticos

GRAZIELE OLIVEIRA
SOCIOLOGIA  DE BOTECO Fernando Barreto, na sede da Webcitizen.  Ele quer entender o comportamento do usuário (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
Mesa de bar é o melhor lugar para conversar sobre política. Relaxados, embalados por petisquinho e bebidinha, os debatedores ficam no ponto para resolver os grandes problemas da humanidade e defender e atacar os políticos e suas ideias (ou a falta delas). O debate costuma sofrer um tanto por desinformação. Se o cidadão-botequeiro pudesse obter informações precisas sobre as propostas dos políticos, teríamos conversas muito melhores em mesas de bar. A Webcitizen, consultoria de comunicação e pesquisas digitais, quer dar sua contribuição. Criou o aplicativo Política de Boteco, disponível desde o fim de agosto para os sistemas iOS, da Apple, e Android, do Google.
Os criadores querem aproveitar o período de campanha eleitoral para convidar os eleitores, principalmente os jovens, a refletir sobre os assuntos de interesse da sociedade em qualquer ambiente, inclusive o boteco. O aplicativo apresenta propostas do político, avalia quanto ele foi atuante no mandato mais recente, discute a coerência de seus projetos e mostra como foi a aceitação ou rejeição da ideia. Depois de baixá-lo e se cadastrar, o usuário passa a receber notificações de projetos de deputados e senadores do Congresso Nacional.
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A linguagem é simples e, num parágrafo de bom resumo, fica fácil entender os projetos de lei, mesmo os mais longos. Se o cidadão-botequeiro quiser mais detalhes, há um link para a origem da informação. É possível compartilhar e comentar os temas, além de votar a favor ou contra a proposta. Em uma semana, pouco mais de 3 mil pessoas baixaram a novidade.

A ideia da Webcitizen é manter no Política de Boteco até 20 projetos e atualizar a lista semanalmente. Na primeira semana de setembro, estavam lá projetos de grande repercussão: o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o fim do salário dos vereadores de municípios com menos de 50 mil habitantes, a transformação em crime da divulgação de imagens íntimas de mulheres sem seu consentimento (prevista pela Lei Maria da Penha), a redução da maioridade penal, a criação do Passe Livre Estudantil em todo o território nacional e a proibição da venda de armas no Brasil a cidadãos. Também estarão no aplicativo propostas de candidatos da atual eleição, incluindo os presidenciáveis Dilma Rousseff, Aécio Neves e Marina Silva. É bom para saber como o candidato pensava, o que passou a pensar, o que andou e o que ficou parado.
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A Webcitizen tem outro filhote, o site VoteLab. O objetivo do novo serviço é ajudar o eleitor a conhecer melhor seu candidato. Em fase experimental, funcionará inicialmente nos Estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, com 5 mil candidatos a deputado federal e estadual. O candidato que quiser participar responderá, on-line, a 20 perguntas sobre temas de interesse social. O usuário fará o mesmo. A função do site é cruzar esses perfis e construir um mapa com os cinco candidatos mais próximos das ideias do usuário. Entre os temas estão a obrigatoriedade do ensino religioso em escolas públicas e privadas, a exploração de animais em eventos, circos e rodeios e a legalização da maconha.

Tanto o Política de Boteco quanto o VoteLab são extensões do site Vote na Web. Trata-se de uma página de internet em que os projetos de lei no Congresso Nacional são apresentados de forma simples ao cidadão. Nestes quatro anos, o site recebeu mais de 150 mil usuários, 5.600 projetos e 4,4 milhões de votos. Todos os parlamentares atuais estão no Vote na Web, tenham ou não apresentado algum projeto.

Movimento empreenda (Foto: ÉPOCA)
A Webcitizen deixa claro que não vende as informações geradas por esses serviços. Relatórios, que também podem ser gerados pelo usuário, são enviados periodicamente aos políticos, para que eles saibam como está sua aceitação entre os internautas. Os perfis são uma maneira de tentar aumentar a adesão às ferramentas da Webcitizen. Fernando Barreto, profissional de marketing e um dos três fundadores da empresa, conta que muitos políticos respondem aos perfis e mudam seus projetos. A maioria, porém, ainda ignora essa arena digital com 150 mil potenciais eleitores.
Como a Webcitizen ganha dinheiro com essas iniciativas? Usando como ferramentas de marketing. A missão da empresa é ajudar as companhias a entender melhor a cabeça do consumidor. Não é tão diferente de um político que tenta “vender” suas ideias ao eleitor. “Os serviços como o Política de Boteco e o Vote na Web são um laboratório para nós”, diz Barreto. “Testamos algoritmos e hipóteses matemáticas nesses projetos.” É uma vitrine do que a Webcitizen se propõe a fazer. Após entender o comportamento do cidadão-botequeiro, fica mais fácil construir ambientes digitais atraentes e coletar informações do comportamento dos usuários. “Eles precisavam investir num projeto autoral para mostrar do que se tratava a empresa e o que eles estavam criando”, diz Mariana Castro, autora do livro Empreendedorismo criativo.
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Agora, a Webcitizen fez parceria com o matemático Davi Ortega, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos. Desenvolvem software juntos, para tentar refinar a coleta de dados sobre o comportamento do brasileiro. “Passaremos da esfera da quantidade para a da qualidade dos dados”, diz Barreto. Ganham os empreendedores da Webcitizen, que exibem seus talentos. Ganha o cliente deles, que conta com um serviço melhor. Ganha o cidadão, que conta com uma ferramenta simples e criativa para conhecer os políticos e cobrá-los melhor. E ganha o debate de mesa de boteco, claro – agora, com um aliado tecnológico para o chope gelado.

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