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31 de maio de 2014

A mulher que colocou donas de casa em biquínis

FLÁVIA YURI OSHIMA
Bettie Page em foto tirada em 1954 por Bunny Yeager, na África (Foto: reprodução)
Quando o francês Louis Réard batizou o maiô de duas peças de biquíni, em 1946, em homenagem à explosão que a marinha americana tinha acabado de detonar no Atol de Bikini, acertou em cheio. O biquíni foi uma bomba para a sociedade. O papa Pio XII tratou de condená-lo por  atentar contra os valores pregados pela igreja católica.  Personalidades como Ava Gardner, Ursula Andress e Brigitte Bardot encararam os preconceitos usando as peças em filmes e em público. Para mulheres sem sobrenomes hollywoodianos, no entanto, o pedágio moral para entrar numa roupa de banho de duas peças ainda era grande, mesmo depois de uma década da explosão do biquíni entre celebridades.

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A ponte entre famosas e anônimas rumo à liberdade para expor seu corpo recebe o nome de Bunny Yeager. Americana nascida na Pensilvânia em 1929, Bunny estava entre as modelos mais famosas quando passou a fotografar também. Especializou-se em fotos de mulheres em poses pin-ups. As grandes estrelas das décadas de 1950, 1960 e 1970 foram clicadas por Bunny em maiôs, decotes, biquínis e nuas.

Bunny Yeager em foto tirada por ela mesma em 1949 (Foto: reprodução)
Bunny ganhou fama, exposições, livros, dinheiro e discípulos. Uma de suas maiores contribuições foi com a comunidade de anônimas, donas de casas e jovens profissionais que tinham vontade de ousar, como as musas do cinema, mas não ousavam pensar nisso. Bunny fotografava essas anônimas. Na presença dela, as mulheres sentiam-se à vontade para posar de um jeito que não tinham coragem de aparecer na frente dos maridos. “Sabiam que eu não tiraria vantagem delas” disse Bunny à Associated Press no ano passado. “Dá para sentir quando alguém está à vontade para mostrar o corpo. Eu não pedia quando percebia que não funcionaria. E parece que por eu não pedir, elas se sentiam bem e de repente estavam preparadas para as fotos.” As imagens iam para exposições e foram publicadas em seus livros. Dentre essas anônimas descobriu Bettie Page, e a transformou numa das maiores modelos fotográficas da década de 1950.

Bunny Yeager em foto tirada por ela mesma em 1960 (Foto: reprodução)
“Bunny conseguiu fazer a mulher comum, das donas de casa às aeromoças, sentir-se confortável com seu corpo. Promoveu uma revolução social silenciosa”, diz a historiadora de arte americana Maria Elena Buszec em seu livro Pin-Up Grrrls: Feminism, Sexuality, Culture Popular (garotas pin-ups: feminismo, sexualidade e cultura popular). “As mulheres devem muito a Bunny pela conquista da liberdade de decidir como e onde mostrar o corpo.”
Em parte por gosto pessoal, em parte pelo preconceito por ser mulher e ter sido modelo, Bunny especializou-se em nus e em pin-ups.  Se destacou nas áreas profissionais a que teve acesso. Na brincadeira, criou o hábito de tirar fotografias de si mesma. Virou referência também em autorretratos. Publicou 17 títulos sobre fotografia. Alguns, didáticos: How I photograph nude (Como fotografo nu) e How I photograph myself (Como fotografo a mim mesma).
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“Mulher e bonita, foi ignorada em muitas áreas por causa disso. Isso não a impediu de ser tornar a melhor em seu tempo”, escreveu Denis Scholl, vice-presidente da Knight Foundation,  que promove projetos de inovação e de resgate nas áreas de comunicação e artes. “Pavimentou o caminho para Laurie Simmons e outros artistas contemporâneos trabalharem arte usando fotografia. Bunny elevou a fotografia pin-up ao status de arte.”
Bunny Yeager morreu domingo, dia 26, aos 85 anos, de insuficiência cardíaca em Miami, nos Estados Unidos.

Bunny Yeager em foto de 2013 em sua galeria em Miami, EUA (Foto: reprodução)

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