O
cigarro pode ser a porta de entrada para outros vícios? VERDADE: uma
série de estudos publicados nos últimos anos confirmam que o cigarro
pode ser uma porta de entrada para o consumo de cocaína, heroína ou
crack, entre outros compostos tóxicos. De acordo com um estudo da
Universidade de Columbia (EUA), publicado na revista Science Translation
Medicine no final de 2011, a nicotina interfere na regulação do DNA e
acaba por aumentar a expressão de um gene chamado FosB, relacionado à
propensão ao vício
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Fumar apenas um ou dois cigarros por dia não faz mal. Parar de fumar
engorda. Cigarro light é melhor que o tradicional. Fumar é um hábito, e
não um vício. Quando se trata de cigarro, a lista de mitos é bem
extensa. Mas, apesar de todas as dúvidas, uma coisa é certa: fumar é
prejudicial à saúde – de diversas formas.
Os prejuízos à saúde
são tantos que o tabagismo é considerado um problema mundial de saúde.
Para alertar a população sobre as doenças e mortes evitáveis
relacionadas ao tabagismo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou o
"Dia Mundial Sem Tabaco", comemorado no dia 31 de maio.
Neste
ano, a campanha busca sensibilizar os governos a aumentarem os impostos
sobre o tabaco, consequentemente aumentando seu preço e desincentivando
seu consumo. A organização estima que um
aumento dos impostos do tabaco em 50% em todos os países reduziria o número de fumantes em 49 milhões nos próximos três anos, podendo salvar até 11 milhões de vidas.
Seis milhões de pessoas no mundo morrem todo ano devido ao uso do
cigarro, segundo o relatório "Epidemia Global do Tabaco 2013" da OMS.
No
Brasil, o Inca aponta que cerca de 12% da população adulta brasileira consome tabaco em suas diversas formas (cigarro, charuto, cigarro de palha, rapé ou fumo-de-rolo) e 200 mil morrem anualmente devido ao tabagismo.
"Todo cigarro faz mal à saúde, não importa a marca ou o tipo. E os
prejuízos à saúde são vários, indo desde alterações no paladar ao câncer
de pulmão", alerta a pneumologista Suzana Pimenta, do Hospital 9 de
Julho.
Saúde em risco
O cigarro pode causar cerca de
50 doenças diferentes, em várias partes do organismo.
Uma das primeiras áreas do corpo atingidas pelo tabagismo é a boca,
porta de entrada das sustâncias tóxicas presentes no cigarro.
Fumar modifica o hálito, irrita a gengiva, facilita o surgimento de
cáries e altera as papilas gustativas, afetando o paladar. Além disso,
aumenta o risco de desenvolver câncer de boca.
O órgão mais afetado pelo tabagismo é o pulmão.
As substâncias tóxicas inaladas fazem os tecidos dos pulmões perderem
elasticidade, o que causa uma degeneração parcial de sua estrutura. O
resultado são problemas como bronquite, doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC) e câncer. De acordo com o Inca, o tabagismo é responsável
por 85% das mortes causadas por bronquite crônica e DPOC e 90% dos
casos de câncer de pulmão.
O coração e a circulação também são prejudicados.
Fumar diminui a espessura dos vasos sanguíneos, faz com que o corpo
absorva mais colesterol, reduz a concentração de oxigênio no sangue e
eleva a pressão arterial e a frequência cardíaca, que sobe até 30%
durante as tragadas. Isso aumenta significativamente o risco de
desenvolver hipertensão, aneurismas, tromboses, varizes, infartos e
angina. De acordo com o Inca, 25% das mortes por doença coronariana e
45% das mortes por infarto agudo do miocárdio em pessoas com menos de 65
anos são causadas pelo tabagismo.
Cérebro, fígado e estômago
também são afetados pelo tabagismo. Os vasos comprimidos, a qualidade de
sangue prejudicada e o aumento da pressão arterial podem levar a um
derrame cerebral. A nicotina e outras substâncias tóxicas presentes no
cigarro são metabolizadas pelo fígado e pelo estômago, o que pode causar
gastrite, úlcera e até mesmo câncer.
Complicações na saúde
A lista de problemas causados pelo tabagismo não para por aí, e ainda
inclui osteoporose, catarata, impotência sexual, infertilidade,
menopausa precoce, complicações na gravidez e vários tipos de câncer.
O câncer, aliás, é um capítulo à parte. Isso porque o
tabagismo
está relacionado ao desenvolvimento de câncer de pulmão, boca, faringe,
estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo de útero e de leucemia.
Para se ter uma ideia da dimensão do problema, 30% das mortes
decorridas por esses tipos de câncer (tirando o câncer de pulmão) são
causadas pelo tabagismo. Em se tratando apenas do câncer de pulmão, o
tabagismo é responsável por 90% dos casos da doença, causando cerca de
1,4 milhões de morte anualmente no mundo todo.
E não é só quem fuma que é prejudicado: as pessoas que convivem com os fumantes também são. "
Os
fumantes passivos têm um risco alto de desenvolver câncer de pulmão,
infarto do miocárdio e até ter alterações na gestação, entre outros
problemas de saúde", aponta o pneumologista Ubiratan de Paula
Santos, médico da Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração do
Hospital das Clínicas e professor da FMUSP (Faculdade de Medicina da
USP).
Quem convive com fumantes têm um risco 30% maior de
desenvolver câncer de pulmão e 24% maior de ter infarto. Segundo dados
da OMS, aproximadamente dois bilhões de pessoas são vítimas do fumo
passivo no mundo. Destas, 700 milhões são crianças, que sofrem com maior
incidência de bronquites, pneumonia e infecções de ouvido, entre outras
doenças. No Brasil, as crianças são 40% das vítimas do fumo passivo.
Hábito ou vício?
Muita gente afirma que fumar é um hábito e não um vício. No entanto, diversas pesquisas apontam o contrário. Hoje o
tabagismo é considerado uma doença crônica e está inserida na CID (Classificação Internacional de Doenças).
A grande vilã do vício é a nicotina. Ela consegue se ligar a receptores
específicos no cérebro, que liberam substâncias associadas à sensação
de prazer. Quando uma pessoa fuma, esse mecanismo é acionado, provocando
uma sensação de bem-estar. É por isso que apenas um cigarro é o
suficiente para amenizar sintomas de ansiedade e depressão – e é isso
também que faz com que as pessoas queiram fumar cada vez mais, em busca
dessa sensação de prazer.
"A nicotina é a substância que causa a
dependência química do fumante, sendo considerada uma droga
psicoestimulante, com efeitos semelhantes à cocaína e heroína, liberando
substâncias estimulantes no cérebro que levam à sensação prazerosa e
euforia. Uma vez aspirada, atinge níveis mais elevados mais rapidamente
no cérebro do que se injetada, em torno de sete a 19 segundos, o que
leva em média a 200 impactos de nicotina por dia no cérebro de pessoas
que fumam um maço diariamente. Nenhuma outra droga oferece tamanha
estimulação neurológica", afirma Pimenta.
Quando uma pessoa fuma
regularmente, o organismo desenvolve uma necessidade de nicotina. Ou
seja, se não ingerir a substância, ela pode ter sintomas de abstinência,
como cansaço, irritação, nervosismo, ansiedade, tristeza, depressão,
fome e uma vontade incontrolável de fumar.
Parar de fumar
Parar de fumar não é uma tarefa fácil. Uma pesquisa realizada pela
Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em 2013 mostrou que nove em
cada dez fumantes gostariam de largar o cigarro, sendo que e a maioria
(63%) já tentou fazê-lo, sem sucesso. Tentar deixar o vício sozinho é
ainda mais complicado: apenas 3% a 5% conseguem realmente largar o
vício.
A tarefa é difícil, mas não é impossível. E existe uma
verdadeira força-tarefa para ajudar na missão de largar o cigarro, que
inclui grupos de ajuda, apoio psicológico e medicamentos. Mas os
especialistas alertam que tomar medicamentos ou começar a usar adesivos e
chicletes de nicotina por conta própria não é o melhor caminho. Para
que eles tenham bons resultados, esses medicamentos precisam ser usados
corretamente e, para isso, é preciso a orientação de um médico
especializado.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece
atendimento gratuito ao fumante. Em 2012, cerca de 2,3 mil unidades
credenciadas ao SUS ofereceriam tratamento em mais de mil municípios nos
26 estados e no Distrito Federal. Em São Paulo, apenas seis - os
Centros de Referência em Abordagem e Tratamento do Fumante - fornecem
medicamentos gratuitamente (como adesivos e chicletes de nicotina e, nos
casos em que o paciente apresenta alto grau de dependência,
antidepressivos à base de bupropiona).
Parar de fumar pode ser
complicado, mas vale a pena. Os benefícios são praticamente imediatos:
em apenas um dia sem fumar, não há mais nicotina circulando no sangue, e
a pressão, a pulsação e o nível de oxigênio no sangue voltam ao normal.
No dia seguinte, o paladar ganha sensibilidade novamente. Se você
conseguir resistir por três semanas, a respiração fica mais fácil e a
circulação sanguínea melhora. Se a decisão for definitiva, as chances de
desenvolver câncer ou ter um infarto se reduzem significativamente em
cinco a 10 anos.
"Parar de fumar em qualquer idade reduz riscos
de doenças e de mortalidade. Estes riscos ficam tanto menores quanto
mais cedo as pessoas param de fumar. Mas mesmo fumantes de longa data
são beneficiados quando abandonam o vício", diz Santos.